O sexo é definido no momento da concepção e segue um curso biológico durante a gestação. Ninguém se surpreende mais ao saber se é menino ou menina, uma vez que o ultrassom já revela essa informação. No entanto, o que se segue a esse momento inicial é influenciado por uma série de fatores, inclusive aqueles que se sentem alinhados a um gênero diferente do que seus cromossomos e órgãos genitais indicam. Defender essa visão, de maneira simples e direta, tornou-se, ironicamente, uma heresia. Richard Dawkins, o famoso biólogo e ateu britânico, decidiu se distanciar da associação de defesa do ateísmo, da qual era uma das figuras mais proeminentes, após a remoção de um artigo que sustentava que gênero é uma característica biológica.

Esse tema já gerou intensos debates entre cientistas reconhecidos por suas posições progressistas e ativistas transgêneros. O rompimento de Dawkins é mais um exemplo do conflito interno na esquerda, que agora se manifesta de forma virulenta. Acusou a Fundação da Liberdade Religiosa de se submeter à "histeria" da cultura do cancelamento e de tentar impor uma nova "religião do transgenderismo".

Dawkins não está sozinho; outros renomados cientistas como Jerry Coyne e Steven Pinker também se afastaram da fundação em decorrência de polêmicas semelhantes. Coyne, por exemplo, escreveu um artigo contestando a visão de uma autora que proclamava que "mulher é quem diz que é mulher", expondo a incoerência de definir gênero desvinculado da biologia. Ele argumentou que sentimentos não criam realidades e questionou a possibilidade de mudanças de sexo, ressaltando que o conceito de sexo deve ser baseado em evidências biológicas.

A controvérsia intensificou-se com a retirada do artigo de Coyne do site da fundação, o que ele descreveu como um ato que espelha aspectos de seitas religiosas, como dogmas e blasfêmias. Em sua defesa, ele concluiu que aceitar a realidade biológica do sexo binário não é uma forma de intolerância, mas sim uma afirmação da ciência.

Steven Pinker, por sua vez, expressou solidariedade a Coyne e também decidiu se desligar da fundação. Com isso, Dawkins passou a somar-se a estes vozes dissidentes.

A discussão em torno da identidade de gênero e suas implicações na biologia está longe de ser recente, mas continua a gerar controvérsias. Mulheres trans merecem respeito e reconhecimento, mas questões como a participação de atletas trans em competições femininas e a segurança de mulheres em abrigos destinados a vítimas de violência, se tornam complexas quando consideradas sob a perspectiva biológica.

Dawkins tem se manifestado continuamente sobre estas questões. Em 2021, perdeu o título de "humanista do ano" por afirmar que a definição de mulher poderia ser discutida de acordo com cromossomos ou autoidentificação, e não há consenso sobre o assunto. Para ele, qualquer tentativa de distorcer o entendimento biológico do sexo representa uma traição à linguagem científica objetiva.

Embora tenha tentado explicar sua posição, ele frequentemente é comparado à autora J.K. Rowling, que também enfrentou críticas por suas opiniões sobre gênero. Para Dawkins, ser a favor da ciência não é sinônimo de transfobia, mas convencer aqueles que discordam parece ser uma tarefa desafiadora.