Ciência

A Crise Psíquica Criada pelo Neoliberalismo: Entenda Como Isso Afeta Você!

2024-12-16

Autor: João

Nos últimos dez anos, pesquisadores da Universidade de São Paulo têm se debruçado sobre as devastadoras consequências do neoliberalismo na saúde mental. O estudo, que culminou no livro 'Neoliberalismo como Gestão do Sofrimento Psíquico', revela a relação inquietante entre a busca incessante por produtividade e a deterioração do bem-estar psicológico.

Neste contexto de crise, a pesquisa examinou como o neoliberalismo transforma relações sociais e intensifica o sofrimento individual. O foco não é apenas a forma como as classes altas se beneficiam, mas como a pressão para ser bem-sucedido e produtivo tem um custo insuportável para a maioria da população.

Na verdade, no Brasil, cerca de 13,5% da população foi diagnosticada com transtornos depressivos e 9,7% lidam com transtornos de ansiedade. Esses números são alarmantes e indicam que o ser humano, em sua busca por reconhecimento e aceitação, encontra um sistema que impõe normas rígidas de comportamento e desempenho. Essa pressão, em muitos casos, leva a consequências devastadoras para a saúde mental.

A pesquisa também questiona a validade das categorias clínicas utilizadas na psicologia. Palavras como 'transtorno de personalidade histriônica' ou 'neurose obsessiva' podem mascarar problemas sociais mais profundos. Em vez de tratar essas condições como entidades naturais, é imprescindível visualizar como são construções sociais resultantes das pressões de um sistema opressivo.

O emocionante debate acadêmico se desdobra ao considerar se essas diagnósticos têm uma base biológica ou se são, de fato, modificações nas regras sociais. A própria ideia de 'normalidade' se revela uma construção que varia de acordo com o contexto socioeconômico.

Ainda mais alarmante é o fato de que, à medida que a intervenção médica se torna cada vez mais intrusiva na vida cotidiana, surgem mais categorias de 'diagnósticos', preenchendo um espaço que anteriormente era percebido como parte da complexidade da experiência humana. Entre 1952 e 2013, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais passou de 128 para 541 categorias. Essa explosão de diagnósticos não deve ser vista como um avanço do conhecimento, mas como uma autorização para patologizar a vivência humana num mundo onde a dor e a luta por reconhecimento são cada vez mais comuns.

Em um mundo onde a economia neoliberal se infiltrou em todos os aspectos da vida cotidiana, a ideia de 'empreendedor de si mesmo' ganhou destaque, mas também trouxe à tona a questão de até que ponto essa autonomia não é uma forma disfarçada de exploração. O discurso da liberdade individual acaba se tornando uma armadilha, onde as pessoas são levadas a acreditar que o sucesso depende unicamente de sua capacidade de se adaptar a uma lógica impiedosa de competição e produtividade.

Agora, mais do que nunca, é vital examinar como essas estruturas sociais e econômicas moldam não só o nosso comportamento, mas também afetam nossa saúde mental. As universidades, como espaços de pesquisa e reflexão, devem atuar como aliados na desconstrução deste modelo opressivo e buscar formas de apoio psicológico que levem em consideração as complexidades da vida moderna.

Assim, quando falamos de sofrimento psíquico, precisamos reconhecer que não é apenas uma questão individual, mas um reflexo direto das condições sociais que nos cercam. Em tempos de crise, a colisão entre as expectativas sociais e o bem-estar emocional está mais evidente do que nunca. A luta por um reconhecimento mais humano, solidário e equitativo se torna essencial para reconstruirmos um espaço onde todos possam se sentir valorizados e compreendidos.