
A Estabilidade É Uma Ilusão: A Verdade Sobre as Mudanças Climáticas
2025-04-01
Autor: Pedro
A afirmação "a estabilidade é uma ilusão" ressoa profundamente na Geologia, a ciência em que trabalho. Isso se deve à nossa percepção do tempo, que na Geologia se estende por milhões e bilhões de anos, uma escala muito além da vida humana. O gênero Homo existe há cerca de três milhões de anos, enquanto Homo sapiens surgiu há aproximadamente 150 mil anos. Um período insignificante quando considerado à luz da história da Terra.
Recentemente, fui impactado por essa expressão na voz apaixonante de Maria Bethânia, durante uma gravação no Museu da Natureza, situado no Parque Nacional da Serra da Capivara em Piauí. Esse parque é fruto de mais de 50 anos de trabalho da Professora Niede Guidon e suas colaboradoras e colaboradores. Com mais de mil sítios arqueológicos boneca de pinturas rupestres, é a maior concentração desse tipo no mundo. Ao visitar o Museu da Natureza, somos convidados a deitar em um grande colchão e observar um teto que imita a Via Láctea, enquanto vozes e imagens se entrelaçam, nos lembrando que a estabilidade é uma construção ilusória.
A dinâmica da natureza é constante e está sempre em transformação. Observamos isso nas variáveis climáticas e nas adaptações das espécies, que ocorrem à medida que a natureza se modifica. Se a natureza houvesse sido estável ao longo do último bilhão de anos, a única forma de vida presente seria provavelmente as bactérias. Portanto, a nossa existência e a capacidade de interação com o meio ambiente é indissociável das transformações naturais.
A natureza altera-se de maneiras cíclicas e unidirecionais; algumas mudanças ocorrem em padrões repetitivos, enquanto outras seguem caminhos imprevisíveis. Esse conceito se reflete de forma clara nas alterações climáticas causadas por fatores intrínsecos ao planeta, que incluem tanto eventos cíclicos quanto ocorrências aleatórias.
As mudanças climáticas de longa duração estão atreladas à Tectônica de Placas, uma força que molda o planeta ao longo de dezenas de milhões de anos. Essa dinâmica continental controla a distribuição de massas terrestres e oceânicas, afetando diretamente o clima. Hoje, vivemos um período de Icehouse, caracterizado por calotas polares, que se iniciou há cerca de 23 milhões de anos, quando os continentes sul e antártico se separaram, alterando o fluxo das correntes oceânicas e resfriando o planeta.
A biodiversidade marinha e terrestre é profundamente afetada por essas mudanças climáticas. Assistimos a uma interessante correlação entre as variações de temperatura nos últimos 800 mil anos e a evolução do gênero Homo. Durante essa periodização, que incluiu nove eras glaciais distintas, Homo sapiens atravessou dois grandes períodos glaciais e agora se encontra em um interglacial, após 10 mil anos de práticas agrícolas que mudaram nossos hábitos e interações com o ambiente.
A discussão se torna ainda mais relevante quando olhamos para o impacto da atividade humana nas mudanças climáticas atuais. Ao alterarmos nosso estilo de vida ao abandonar a caça e coleta para a agricultura, podemos ter mudado a trajetória natural que levaria a outra era glacial dentro de um ciclo de 10 mil anos. A ação humana pode ser vista tanto como uma força de mudança catastrófica, semelhante a eventos naturais como impactos de meteoros, quanto como uma possível mitigadora dos extremos climáticos da próxima era glacial.
Diante de tudo isso, importa refletir: a estabilidade, em qualquer forma que a compreendamos, é uma percepção enganosa. A natureza sempre estará em movimento, e nossas ações, por mais que busquemos controle, são apenas mais uma camada na complexidade de um sistema vivo e em transformação constante. E, no fim, será o que fazemos agora que determinará nosso futuro neste mundo cada vez mais instável.