Apesar de ser uma plataforma relativamente pequena no vasto oceano das redes sociais, o X (antigo Twitter) conquistou o primeiro lugar no ranking da App Store da Apple, superando até o popular Threads, do Instagram, nesta semana. No entanto, essa ascensão vem acompanhada de um preocupante fenômeno: um número crescente de usuários está decidindo abandonar a plataforma.

Essa não é a primeira vez que o X enfrenta uma queda significativa no número de usuários ativos. O ponto de inflexão aconteceu quando Elon Musk assumiu o controle do Twitter em outubro de 2022, e a situação se agravou com o recente banimento da plataforma no Brasil, em agosto deste ano.

O apoio de Musk a figuras polêmicas, como Donald Trump, parece ter sido a gota d'água para muitos usuários. Bart Cammaerts, pesquisador de comunicações na London School of Economics, destaca que estamos em um momento crítico. Segundo ele, "a redução da moderação de conteúdo e a radicalização das mensagens de Musk estão fazendo com que muitos se afastem".

Quem Está Deixando o X?

Recentemente, o jornal britânico The Guardian anunciou que deixará de publicar conteúdos no X, embora pretenda manter sua conta. Outras organizações de mídia, como NPR e PBS nos EUA, já haviam tomado a mesma decisão no ano passado. A Australian Broadcasting Corporation, por sua vez, reduziu drasticamente sua presença, mantendo apenas quatro páginas relacionadas a áreas específicas.

Celebridades também fazem parte dessa onda de abandono. Atrizes como Jamie Lee Curtis e Bette Midler apagaram suas contas, mas continuam ativas em outras plataformas. Elas se juntam a uma lista crescente de figuras conhecidas, como Elton John e Whoopi Goldberg, que decidiram deixar o X após a aquisição por Musk.

Além disso, várias organizações alemãs, incluindo o Festival de Cinema de Berlim e o FC St. Pauli, anunciaram a saída da plataforma. Mais de 50 ONGs na Alemanha também comunicaram seu desligamento através do portal byebyeelon.de, sinalizando uma mudança significativa na percepção pública sobre a plataforma.

O Que Está Por Trás Dessa Decisão?

Os motivos para o êxodo são variados, mas um dos principais é o aumento do conteúdo negativo, incluindo discursos de ódio e teorias da conspiração que deixam muitos usuários desconfortáveis. A pesquisa de Silvia Majo-Vazquez, especialista em comunicação política, indica que as empresas estão reavaliando seus investimentos nas redes sociais, considerando o nível de incerteza em torno da plataforma.

"As notícias não têm recursos ilimitados e o consumidor também não é eternamente paciente. Se uma plataforma não oferece um ambiente saudável, ela se torna menos atraente". Muitos usuários relataram que estão se sentindo mais à vontade em novas opções de microblogging que remetem à essência do Twitter antigo, com menos bots e mais interações genuínas.

O Menor de Dois males

Embora os usuários estejam se mudando para novas plataformas, a realidade é que essas redes emergentes não estão imunes aos mesmos problemas que enfrentam as gigantes das redes sociais. Cammaerts observa: "Estamos apenas trocando um problema por outro. Nenhuma plataforma é perfeita e todas têm seus próprios desafios de toxicidade e privacidade".

O Futuro do Discurso Público

O futuro do discurso público nas redes sociais ainda é incerto, mas é evidente que é um tópico que merece ser discutido urgentemente. "Como queremos que nosso espaço democrático nas mídias sociais seja?", pergunta Cammaerts, sugerindo que este debate pode ser polêmico, mas necessário.

Enquanto o panorama digital continua a mudar, a fragmentação das redes sociais e a busca por um ambiente online mais seguro e construtivo parecem ser tendências que estão tomando forma. Afinal, muitos usuários acreditam que a mudança é não apenas desejável, mas urgente.