Ciência

A Incrível História de Cesare Lattes: O Brasileiro Indicado 7 Vezes ao Nobel e Sua Luta Contra as Injustiças

2024-10-11

Autor: Ana

Nascido em 11 de julho de 1924, em Curitiba, Cesare Mansueto Giulio Lattes se destacou como um dos maiores físicos do Brasil, graduando-se pela Universidade de São Paulo (USP) em física e matemática. Sob a orientação do renomado Gleb Wataghin, Lattes fez pesquisas reveladoras na área de física de partículas.

Em 1946, Lattes deu um salto em sua carreira ao ingressar na equipe do H. H. Wills Laboratory, na Universidade de Bristol, na Inglaterra, onde ele e sua equipe buscaram entender as forças que mantêm os prótons unidos no núcleo atômico. Ele desbravou as montanhas da Bolívia, no pico de Chacaltaya, a mais de 5 mil metros acima do nível do mar, onde fotografou trajetórias de partículas geradas por raios cósmicos.

Durante suas investigações, uma de suas decisões levou à descoberta do méson pi, uma partícula subatômica fundamental para a coesão dos núcleos atômicos, revelando o talento inato de Lattes para a física teórica e experimental. Entre 1949 e 1954, ele foi indicado 7 vezes ao Prêmio Nobel de Física, mas não conquistou nenhuma dessas honrarias. Em 1950, seu chefe Cecil Frank Powell acabou levando o prêmio, em reconhecimento ao avanço no estudo de mésons.

Em uma entrevista ao Jornal da Unicamp em 2001, Cesare desabafou sobre a sensação de injustiça em não receber o Nobel: “Sabe por que eu não ganhei o prêmio Nobel? Em Chacaltaya, quando descobrimos o méson-pi, se publicou: Lattes, Occhialini e Powell. E o Powell, malandro, pegou o prêmio Nobel pra ele. Occhialini e eu entramos pelo cano.” Essa declaração expôs não apenas o seu descontentamento, mas também as rivalidades que permeiam o mundo acadêmico.

Teorias sobre sua nacionalidade começavam a surgir como um possível empecilho. Entretanto, Lattes sempre foi firme em sua convicção de que seus colegas e a dinâmica do meio científico pesaram mais nas decisões da premiação. “Acredito que a minha brasileira não influenciou a escolha”, disse, reiterando que a colaboração internacional era parte essencial de suas descobertas.

Além das controvérsias envolvendo o Nobel, é importante destacar que as regras até 1960 favoreciam lideranças de equipe em detrimento de contribuições individuais. Essa política contribuiu para que grandes cientistas, como Lattes, ficassem sem o reconhecimento merecido.

Apesar de sua ausência nos livros de história do Nobel, Cesare Lattes foi agraciado com o título de doutor honoris causa pela USP em 1965 e, em reconhecimento a sua contribuição à ciência, o CNPq nomeou uma plataforma nacional de dados acadêmicos de científicos em sua homenagem em 1999.

A trajetória de Cesare Lattes é um lembrete significativo de como o reconhecimento no mundo acadêmico pode ser volúvel e, muitas vezes, injusto. Sua contribuição para a física moderna e seu legado são, sem dúvida, uma grande inspiração para futuras gerações de cientistas.