Inacreditável!

Tornozeleira eletrônica, inelegibilidade e futuro político: a condenação de Marine Le Pen resulta em uma reviravolta no já instável cenário político francês.

Após ser condenada por desvio de recursos da União Europeia, Marine Le Pen, líder do Reagrupamento Nacional, enfrentou uma decisão judicial que complicou ainda mais suas aspirações políticas. Enquanto os juízes a declaravam culpada, Le Pen saiu da sala, mostrando-se indignada. A condenação inclui quatro anos de prisão, a qual poderá ser cumprida com tornozeleira eletrônica, uma multa de 100 mil euros (aproximadamente R$ 624 mil) e, o mais impactante, cinco anos de inelegibilidade. Embora seus advogados pretendam recorrer da decisão para garantir sua candidatura à presidência em 2027, a inelegibilidade será aplicada imediatamente.

Le Pen protestou contra a decisão, afirmando que milhões de franceses estão revoltados por ver uma prática judicial que ela compara a regimes autoritários em um país que deveria valorizar a democracia e os direitos humanos. Ela declarou: "Esse é um dia trágico para nossa democracia, onde milhões de franceses serão privados de sua escolha nas próximas eleições presidenciais".

O esquema que levou à sua condenação se refere ao uso indevido de fundos destinados ao pagamento de assessores de eurodeputados, que foram desviado para funcionários que atuavam em questões políticas internas da França. O tribunal estimou que esse esquema desviou cerca de 2,9 milhões de euros (aproximadamente R$ 18,1 milhões). Além de Le Pen, doze de seus assistentes também foram condenados. Apesar das condenações, Le Pen não perderá seu mandato de deputada.

Se a inelegibilidade de Le Pen se confirmar, as próximas eleições presidenciais de 2027 serão as primeiras desde 1981 sem um membro da família Le Pen nas cédulas. Isso adicionará mais confusão a um cenário político francês já complicado, duas anos antes das eleições. O atual presidente, Emmanuel Macron, enfrenta sua própria batalha, pois não pode se candidatar a um terceiro mandato e a sua aprovação gira em torno de 30%, número considerado fraco, especialmente à luz de sua performance anterior.

As eleições de 2024 prometem ser um campo de batalha. Os partidos da oposição, especialmente a esquerda, estão vendo oportunidades de ampliar sua influência, principalmente agora que apresentaram um forte desempenho nas últimas eleições. Jean-Luc Mélenchon, líder do partido França Insubmissa, embora tenha tido um cerco em suas chances de vitória, está de olho nas próximas eleições e se posiciona contra o uso de tribunais para promover a inelegibilidade.

Com a condenação de Le Pen, planejamentos para sua sucessão já estão sendo discutidos. O jovem Jordan Bardella, eurodeputado de 29 anos, é considerado como possível sucessor e candidato à presidência, caso Le Pen não consiga se reerguer politicamente. Sua popularidade entre os jovens e sua ascensão estão causando preocupação em partes da esquerda. A possibilidade de uma candidatura bem-sucedida de Bardella sugere uma nova fase para o Reagrupamento Nacional, que sempre buscou uma imagem limpa, mas que agora lida com as complicações da corrupção.

O clima político na França está, portanto, à beira de uma transformação significativa. A condenação de Le Pen e sua luta pela reabilitação política podem criar ondas que se espalharão muito além de suas aspirações individuais. O futuro de seu partido e sua própria carreira política estão em jogo, enquanto o povo francês observa ansiosamente o desenrolar dos próximos capítulos desse drama político.