
A Resistência ao Governo Trump nos Estados Unidos: O Que Realmente Está Acontecendo?
2025-03-18
Autor: João
A recente derrota de Kamala Harris nas eleições de novembro de 2024, por uma margem apertada de 1,6%, deixou o Partido Democrata em frangalhos. Internamente, surgiram debates acalorados, com diferentes correntes tentando explicar a vitória de Trump e criticar a abordagem dos moderados e radicais do partido.
Enquanto alguns membros da esquerda acreditavam que Harris deveria ter adotado um discurso populista mais ousado, outros a acusaram de não se diferenciar suficientemente das políticas de Biden. Vale mencionar que o apoio do Partido Democrata a Israel durante a guerra contra o Hamas resultou na alienação de muitos eleitores árabe-americanos e defensores da causa palestina, que se sentiram distantes do processo eleitoral ou até decidiram votar em Trump.
Além disso, a campanha democrata focou excessivamente nos perigos que Trump representa para a democracia, ignorando as preocupações fundamentais da população, como a inflação. O lema "é a economia, estúpido" ganhou um novo significado, transformando-se em "é o preço dos ovos, estúpido", evidenciando como os eleitores indecisos acabaram optando por Trump.
Os ataques de Trump aos imigrantes indocumentados, apontados como responsáveis pela criminalidade e desemprego, embora ambos os índices estivessem historicamente baixos, foram eficazes para conquistar apoio adicional. Outro fator crucial, pouco discutido, foi a misoginia historicamente arraigada, que tornou a eleição de uma mulher negra como Harris ainda mais desafiadora em um cenário já polarizado.
As tensões internas do Partido Democrata culminaram em dificuldades para estabelecer uma estratégia unificada de oposição a Trump, que conquistou apenas uma leve maioria tanto na Câmara dos Representantes quanto no Senado. Quando o presidente Trump começou a anunciar suas escolhas para o gabinete, a primeira onda de resistência emergiu, mas, apesar das ameaças de Trump em retaliar candidatos republicanos nas primárias de 2026, a coesão dos republicanos prevaleceu, levando à aprovação de todos os indicados.
No dia 20 de janeiro, enquanto Trump tomava posse e ordenava uma série de medidas executivas para desmoronar a oposição, o cenário estava longe de ser pacífico. A retirada dos EUA da Organização Mundial da Saúde e do Acordo de Paris, além do perdão a invasores do Capitólio e a tentativa de anular a 14ª Emenda da Constituição, demonstravam um claro desprezo pelas normas democráticas.
Nesse ínterim, as ações de Elon Musk, nomeado para liderar um fictício “Departamento de Eficiência Governamental”, levantaram alertas sobre a desmantelação do Estado de Bem-Estar Social, que levou décadas para ser construído. O desmonte de agências governamentais e a demissão em massa de funcionários, especialmente na USAID e no Departamento de Educação, tiveram como objetivo reduzir a eficácia do governo e promover uma agenda de privatização.
À medida que essa nova administração se posicionava, sinais de resistência começaram a emergir. Juízes de várias regiões dos EUA declararam as demissões ilegais, e políticos e ativistas começaram a organizar protestos, muitos dos quais se concentraram nas concessionárias da Tesla, instando os consumidores a boicotar os veículos da marca.
Bernie Sanders também começou uma turnê nacional contra a “oligarquia”, atraindo multidões e assegurando que sua mensagem radical contra Trump ressoasse mesmo em estados onde o ex-presidente tinha ganhado. Este fenômeno demonstra uma união crescente entre diferentes sectores da sociedade descontentes com as políticas em vigor.
Apesar da aparência de força, a administração Trump enfrenta pressões significativas: a popularidade do presidente cai e já despenca para 45% de aprovação, conforme pesquisa da CNN. A única área em que Trump mantém respaldo é a imigração, uma questão que continua a polarizar o eleitorado.
À medida que as tensões em torno da inflação aumentam e mais cidadãos sentem o golpe dos cortes em serviços e programas, a probabilidade de mobilizações locais crescerem se torna cada vez mais real. No entanto, com os democratas sem controle no Congresso e uma maioria conservadora na Suprema Corte, a batalha está longe de ser fácil.
Os dois últimos meses nos EUA foram intensos e caóticos, mostrando que, embora a resistência tenha começado a se organizar, o caminho à frente está repleto de desafios.