A Revolução do Conhecimento: Cientistas Indígenas Rompem Barreiras na Integração com a Ciência Ocidental
2024-12-13
Autor: Maria
A revista Science, uma das mais conceituadas do mundo científico, divulgou nesta quinta-feira (12) um artigo inédito, considerado o primeiro de autoria de pesquisadores indígenas brasileiros na publicação. Este movimento representa um marco significativo na história da ciência, onde, embora já tenham ocorrido colaborações anteriores entre indígenas e cientistas, o reconhecimento formal é um passo à frente.
O artigo, intitulado "Indigenizando as Ciências da Conservação para uma Amazônia Sustentável", propõe uma abordagem inovadora que visa a integração do conhecimento científico ocidental com o saber indígena, especialmente no que diz respeito à preservação da Amazônia e sua rica biodiversidade. Os autores incluem cientistas indígenas do Amazonas em parceria com pesquisadores não-indígenas da Universidade de Princeton (EUA) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Os autores destacam um histórico de apropriação e desconsideração do conhecimento indígena pela ciência ocidental. No entanto, nas últimas décadas, um novo panorama de colaboração e diálogo tem surgido, permitindo que as metodologias e teorias indígenas sejam discutidas em conjunto com as práticas ecológicas mais estabelecidas. "As ciências da conservação devem reconhecer e validar os saberes indígenas por seus próprios méritos, sem a necessidade de aprovação das convenções científicas ocidentais", afirmam os pesquisadores.
Representantes das etnias tuyuka, tukano, bará, baniwa e sataré-mawé estão exigindo a inclusão de vozes indígenas em fóruns internacionais que discutem mudanças climáticas, buscando afastar a abordagem colonialista que percorre esses debates atualmente. Justino Rezende, um antropólogo da etnia tuyuka e autor do artigo, ressalta a importância de abraçar visões indígenas sobre a conexão com o mundo natural e suas interações com seres humanos e não-humanos.
Rezende explica que a ciência deve ir além da mera espiritualidade, reconhecendo a profundidade dos conhecimentos ancestrais que moldaram a relação dos indígenas com a terra, os seres e os elementos naturais. "Nossas tradições, rituais e a compreensão cósmica são fundamentais. Precisamos rever a relação com as árvores, pedras e toda a biodiversidade da Amazônia", comentou.
Recentemente, mais de 190 países chegaram a um consenso histórico sobre patentes, propondo medidas contra a biopirataria e a exploração indevida de recursos genéticos e saberes tradicionais. O tratado, que demorou mais de duas décadas para ser negociado, exige que aqueles que solicitem patentes informem a origem dos recursos que utilizam, incluindo os conhecimentos dos povos indígenas.
Além disso, em março, um importante encontro científico internacional em Brasília reuniu pesquisadores indígenas para discutir justiça climática, com a presença de figuras relevantes como o cacique Raoni Metuktire e o ativista Txai Suruí. Essa aproximação entre ciência e saberes tradicionais não só fortalece a luta pela preservação ambiental, mas também resgata a dignidade e o valor do conhecimento indígena em um cenário global em constante mudança.
Com a crescente urgência das questões ambientais, a união das vozes indígenas com a comunidade científica pode ser a chave para novas soluções e entendimentos. O futuro da Amazônia e de seu ecossistema depende não apenas de práticas ocidentais, mas também de respeitar a sabedoria ancestral que já protege essa rica terra há séculos.