
A série 'Adolescência' e a angústia de educar os filhos: Uma reflexão profunda
2025-03-26
Autor: Lucas
"Adolescência", a aclamada série da Netflix, provoca uma montanha-russa emocional que muitos pais certamente sentirão. Após assistir aos quatro episódios, encontrei-me tomado pela tensão e pelas lágrimas, especialmente durante a cena final. A imagem do pai, Eddie, vagando pelo quarto vazio de seu filho Jamie, ao mesmo tempo desesperado e melancólico, acendeu memórias de minhas próprias lutas como pai e pastor.
Rememoro o ano de 1996, meu segundo ano como pastor em São Paulo, e o nascimento do meu primeiro filho. Uma noite, em conversa com um membro da congregação, um jovem de 30 anos apareceu, saindo de um táxi com a aparência de alguém que tinha vivido décadas em apenas alguns anos. "Pai, sou eu", ele gritou, enquanto o pai, incrédulo, tentava reconhecer seu filho que estava saindo do presídio após quase uma década. Ele havia sido libertado devido a um estado terminal de HIV.
Infelizmente, ele faleceu pouco depois de ser libertado. Durante o culto de despedida, o pai me confidenciou: "Criamos esse menino na igreja, como os outros irmãos dele. Demos amor e atenção, mas durante a adolescência, ele se perdeu para a criminalidade e as drogas". Era um testemunho doloroso do quanto mesmo os melhores esforços podem falhar.
No enredo de "Adolescência", Jamie é acusado de assassinar uma colega de escola. Seus pais, consumidos por dúvidas, se questionam sobre suas falhas como educadores e se poderiam ter evitado tal tragédia. Este dilema é universal entre todos os pais quando enfrentam crises com seus filhos.
Ainda que uma estrutura familiar saudável e atenta seja importante, não há garantias de que os filhos não se desviarem para o caminho da delinquência. Desde os primeiros capítulos da Bíblia, com a história de Caim e Abel, entendemos que a violência pode surgir mesmo em lares cheios de amor.
Andrew Solomon, autor de "Longe da Árvore", estudou famílias que enfrentaram a realidade de filhos criminosos e nota uma verdade dolorosa: "Por mais amor e apoio que ofereçamos, algumas pessoas estão predispostas à violência, carecendo de empatia ou tendo uma percepção distorcida da realidade". Cada pai ou mãe pode se identificar com esses desafios.
Certa vez, em um McDonald's, observei meu filho mais velho, absorto em seu lanche. Olhando em seus olhos, percebi não apenas um reflexo de mim, mas também uma entidade única e misteriosa, cercada de incertezas. Um frio percorreu minha espinha, um lembrete da vulnerabilidade de ser pai.
Nunca precisei recorrer a uma delegacia devido ao comportamento dos meus filhos, mas já enfrentei as dificuldades cotidianas, como a reprovação na escola do meu filho mais novo, que passava noites jogando no computador, mesmo após vários avisos e castigos.
"Adolescência" é rica em temas relevantes como bullying e a supervisão do uso das redes sociais, mas também escava a essência da comunicação entre pais e filhos. A série nos mostra que não existe um manual que garanta o sucesso na educação dos filhos.
A narrativa revela uma família que, mesmo rodeada de amor, não escapou do sofrimento, ao ver Jamie atrás das grades. O amor, por mais que seja uma força poderosa, não é garantia de segurança ou sucesso. Mas há uma força resiliência no amor que é verdadeiramente impressionante. A dor e a luta da família de Jamie em "Adolescência" refletem uma verdade profunda: o amor persiste, mesmo em meio à tragédia, ressoando com as palavras de Carlos Drummond em "As Sem Razões do Amor": "Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo". Uma lição para todos nós em sua complexidade. Para os pais, fica uma pergunta inquietante: quanto do nosso amor realmente nos protege e quanto devemos lutar constantemente por nossos filhos em um mundo tão desafiador?