Benedito Alves da Silva, carinhosamente conhecido como Dito Verde, tem 76 anos e é o único residente da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, localizada a cerca de 145 km de Cuiabá. Com um brilho nostálgico nos olhos, ele lamenta: "Faz quatro anos que a água não sobe aqui". Esta frase reflete não apenas seu amor pelo lugar, mas também as terríveis mudanças climáticas que o Pantanal enfrenta.

Dito Verde chama atenção para um pequeno barranco que separa sua casa do local onde recebe turistas, mostrando sua habilidade em tocar viola de cocho e cantar sobre a vida dos pantaneiros. A casa onde ele vive hoje foi construída quando tinha apenas 15 anos, com a primeira esposa, e ele não tem planos de deixar o lugar, desejando até ser enterrado ali, próximo ao fogão a lenha que tanto ama.

O impacto da seca é visível. Anteriormente, entre novembro e dezembro, a água tomava conta do terreno que hoje está seco e árido, e Dito não hesita em afirmar que "é mais bonito quando tem água". O Pantanal é uma das regiões mais ricas em biodiversidade do Brasil, mas a mudança climática e a intensa ocupação territorial têm causado secas severas, alterando o equilíbrio do ecossistema.

No último dia 8, durante uma visita, a reportagem ficou chocada ao notar que, em tempos de seca, era necessário parar o barco a poucos metros de sua residência para alcançar a margem do rio. Dito compartilha a diferença que ele testemunhou ao longo dos anos, mostrando uma árvore onde costuma marcar o nível da água durante as cheias. Enquanto isso, a marca da cheia do ano passado está a menos de meio metro do solo, uma prova alarmante do impacto da seca.

Ele relembra os dias em que plantava feijão, milho e mandioca em sua propriedade, alegando que, embora usasse queimadas controladas, nunca houve incêndios de grandes proporções até os episódios devastadores de 2020, quando o fogo chegou perto de sua casa. "Queimou tudinho aqui", ele recorda, observando com tristeza as árvores ao longo do caminho até o rio, algumas com folhas amareladas e secas.

Com a estação chuvosa normalmente entre outubro e abril, Dito se pergunta se haverá cheias no próximo ano, enfatizando: "Não está chovendo". Sua esperança se apaga com cada dia que passa sem água, à medida que a realidade de uma das áreas alagadas mais importantes do Brasil se transforma em um verdadeiro deserto.

O Pantanal, a principal área úmida do Brasil, é uma das regiões que mais está sendo afetada pela mudança climática, e a história de Dito Verde é apenas um testemunho da luta por sobrevivência em um ecossistema que está mudando rapidamente. A pergunta que todos se fazem é: até quando Dito Verde poderá defender o seu lar?