Apesar do céu nublado e da chuva iminente, banhistas irresponsáveis ignoraram os alertas sobre a qualidade imprópria da água na praia José Menino, em Santos, e entraram no mar na última quarta-feira (8). Essa cena lamentável ilustra um problema crônico que afeta as praias do litoral paulista, que se agrava anualmente, e que este ano ganhou ainda mais repercussão devido a um surto de virose que atingiu cidades como Guarujá e Praia Grande.

O que muitos não sabem é que a contaminação das águas não tem uma única causa. A combinação de esgoto, lixo e ainda os rejeitos trazidos pelas chuvas aumentam a gravidade da situação. A infiltração clandestina de esgoto nas redes pluviais é uma realidade alarmante, já que muitos assentamentos não possuem sistemas adequados de tratamento.

Os moradores da área pedem urgentemente mais fiscalização para combater as irregularidades no sistema de saneamento. O aumento da produção de resíduos durante a alta temporada do verão torna a situação ainda mais crítica. Este problema é ainda mais complicado pela interação falha entre as redes de drenagem de água pluvial e as de esgoto, o que pode levar a casos explosivos como o que foi observado na interseção das ruas Godofredo Fraga e Dr. Gaspar Ricardo, onde esgoto transbordava diretamente para o córrego canalizado.

Curiosamente, essa área é próxima à estação de tratamento de esgoto, Engenheiro Saturnino de Brito, a qual deveria ser uma solução para esses problemas. No entanto, em dias de chuva, a prefeitura abre as comportas dos canais para o escoamento da água, o que resulta no despejo acidental de esgoto nas áreas de banho. Isso leva à recomendação de evitar o banho de mar por 24 horas após fortes chuvas.

Marcos Bandini, aposentado que vive próximo à região, ressalta a necessidade de uma fiscalização mais efetiva para corrigir as conexões inadequadas de esgoto e regularizar ligações clandestinas. Na mesma linha, outros moradores relatam uma falta de conscientização sobre o descarte correto de resíduos, que contribui para a poluição dos canais.

Além disso, dados recentes do IBGE revelam que uma significativa parte da população da Baixada Santista ainda vive em condições inadequadas de saneamento. Das 1,8 milhões de pessoas na região, cerca de 117.800 enfrentam problemas graves, vivendo em áreas com fossa rudimentares ou pior, sem nenhum sistema de saneamento.

Para piorar a situação, a Prefeitura de Santos identificou um grande número de imóveis em áreas irregulares e tem planos de urbanização, mas os resultados ainda não são suficientes. O governo prevê investimentos de R$ 2,5 bilhões na área de saneamento até 2029, em um projeto que inclui novas instalações de tratamento.

Enquanto isso, a qualidade da água das praias continua em risco, impactando não apenas a saúde dos banhistas, mas o turismo e a economia local. A comunidade científica e várias organizações ambientais têm alertado que a falta de ação pode levar a consequências desastrosas para a vida marinha e a saúde pública. Então, você ainda vai arriscar um banho nessas águas? A resposta é clara: é hora de exigir mudanças e agir antes que seja tarde demais!