
A Verdade Sobre o Superfungo Causador de Surto em Hospital Público de SP
2025-04-01
Autor: Pedro
São Paulo — O Candida auris, conhecido como 'superfungo', tem gerado uma preocupação alarmante em todo o mundo. Este fungo é famoso por sua capacidade de resistência a medicamentos antifúngicos comuns, suas altas taxas de mortalidade e pela facilidade com que se espalha em ambientes hospitalares. Atualmente, o Hospital do Servidor Público Estadual, na zona sul de São Paulo, está enfrentando um surto, com 14 casos de pacientes colonizados e um caso confirmado de infecção desde o início de janeiro deste ano.
Os primeiros casos de Candida auris no Brasil foram documentados em 2020, no contexto da pandemia de Covid-19, com o primeiro paciente sendo um indivíduo internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI) em Salvador (BA). A superlotação e a pressão sobre os serviços de saúde naquele período criaram um ambiente propício para a proliferação do fungo, levando a surtos em várias UTIs pelo país.
Em entrevista ao Metrópoles, o infectologista Diego Rodrigues Falci, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explicou que as candidíases invasivas são um desafio constante para pacientes hospitalizados. O fungo, que pode sobreviver em superfícies inanimadas por longos períodos, é transmitido principalmente pelo contato direto com objetos contaminados, como roupas de cama, corrimãos e equipamentos médicos.
"Pacientes com sistema imunológico comprometido, como os que fazem uso de antibióticos, quimioterapia ou que estão internados em UTIs, estão mais vulneráveis ao Candida auris. A infecção pode ter consequências graves, especialmente entre os doentes crônicos", destacou Falci.
De acordo com a Anvisa, a situação do Candida auris representa uma ameaça séria à saúde pública por várias razões:
- Ele forma biofilmes que resistem ao tratamento com antifúngicos.
- Resistência a medicamentos frequentemente utilizados no tratamento de infecções por Candida, com até 90% dos isolados sendo resistentes ao fluconazol, anfotericina B e equinocandinas.
- Capacidade de provocar infecções profundas, como candidemia, que podem ser fatais para pacientes imunocomprometidos.
- Pode ser encontrado no ambiente por semanas ou meses e resiste a muitos desinfetantes comumente utilizados.
As dificuldades para identificar o Candida auris em tempo hábil complicam ainda mais a situação, contribuindo para a propagação do fungo. Falci ressalta que os sinais de uma infecção incluem febre, mal-estar e deterioração dos exames laboratoriais.
O tratamento normalmente requer o uso de antifúngicos, mas a resistência a tratamentos convencionais pode obrigar médicos a prescrever alternativas menos usuais, tornando a abordagem do manejo a essas infecções um verdadeiro desafio.
Em relação ao surto no Hospital do Servidor Público Estadual, um paciente de 73 anos foi diagnosticado com o superfungo e acabou falecendo. Embora o hospital tenha declarado que o óbito foi consequência de complicações cirúrgicas, a presença do fungo levantou questões sobre a segurança no atendimento.
A administração do hospital, por sua vez, notificou a Anvisa e implementou uma série de medidas rigorosas, incluindo a manutenção de quartos individuais para pacientes, intensificação nas práticas de higienização e treinamento direcionado para as equipes de saúde. Além disso, foram estabelecidas coletas mensais para monitorar a situação.
A boa notícia é que, até o momento, dos 14 pacientes colonizados, nenhum evoluiu para uma infecção mais grave durante a internação. O hospital também tem mantido comunicação constante com a Anvisa, reportando os resultados e aprimorando as normas de controle para garantir a segurança de todos os pacientes. Através destas ações, o Hospital do Servidor Público Estadual está focado não apenas na resolução imediata do surto, mas também em estabelecer um ambiente seguro e humanizado para os que dependem de cuidados médicos.