Ciência

Abiquim Alerta: Setor Químico Brasileiro em Risco diante da Competição dos Gigantes China e EUA

2024-10-14

Autor: Lucas

Em uma declaração alarmante ao Poder360, André Passos, presidente-executivo da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), enfatizou a necessidade urgente de proteção do setor químico nacional contra as estratégias agressivas da China e dos Estados Unidos. Para Passos, a atenção do governo federal, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é crucial para acalentar o sonho de uma nova industrialização no Brasil.

“Vemos uma intensa disputa por dominação industrial entre as potências econômicas, em que toda a riqueza industrial, de veículos a maquinários, está em jogo”, destacou Passos, salientando que a indústria química é a espinha dorsal de muitos outros setores produtivos. Sem uma resposta firme do governo, o Brasil corre o risco de se tornar dependente de produtos químicos importados, especialmente da China, que já se consolidou como um forte competidor global.

O cenário competitivo é ainda mais preocupante, dado o uso estratégico de subsídios pela China, que, segundo Passos, possui 1.180 linhas de subsídio para a indústria química. Essa abordagem permite que os produtos chineses cheguem a mercados externos a preços extremamente baixos, colocando as indústrias locais em uma posição desfavorável. Em contrapartida, a única linha de crédito específica para o setor químico no Brasil vem perdendo força e não apresenta comparações com os apoios recebidos por concorrentes globais.

Para mitigar os efeitos dessa competição, o governo brasileiro tomou a iniciativa de elevar as alíquotas de importação de 30 produtos químicos, uma medida solicitada pela Abiquim e que foi bem recebida pela entidade. Entretanto, Passos advertiu que esta ação é apenas uma solução temporária e não resolve a falta de investimentos que a indústria brasileira enfrenta na produção de químicos mais sustentáveis e de baixo carbono.

Ademais, o acesso a recursos energéticos, como o gás natural, é uma questão crítica. A indústria químico-brasileira sofre com preços altos e a falta de acesso a fontes competitivas de gás, enquanto os EUA e a China desfrutam de custos baixos devido a suas vastas reservas e acordos comerciais favoráveis. “Enquanto os EUA têm gás natural acessível e a China obtém gás russo a preços baixos, o Brasil permanece em desvantagem”, desabafou Passos.

O governo está ciente do desafio e implementou o decreto do Gás para Empregar, que promove a maior oferta de gás no mercado nacional e a redução de preços. Duas ações principais estão em andamento: a autorização da PPSA (Pré-Sal Petróleo) para acessar gasodutos da Petrobras e a reestruturação da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) para regular as tarifas de escoamento do gás. No entanto, as mudanças ainda precisam de tempo e um planejamento detalhado para se tornarem efetivas.

As expectativas para a indústria química são altas, mas, segundo Passos, ainda estamos lidando com promessas que não foram completamente transformadas em ações práticas. A Abiquim aguarda ansiosamente mais ação dos governos, esperando que essas iniciativas sejam mais do que meras 'cartas de intenções' e verdadeiramente fortaleçam o setor químico nacional para enfrentar a feroz concorrência internacional. Será que o Brasil conseguirá defender sua indústria química e se tornar um player significativo no cenário global? O tempo dirá, e todos os olhos estão voltados para as decisões que serão tomadas nos próximos meses.