Ciência

Adeus ao Gaia: Telescópio que revolucionou a Astronomia vai mergulhar no Sol

2025-03-27

Autor: Mariana

Após mais de uma década mapeando a Via Láctea, o telescópio espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), está prestes a dar seu último adeus. Na quinta-feira (27), especialistas iniciarão a manobra para colocar o Gaia em uma órbita ao redor do Sol, antes de desligá-lo definitivamente.

Desde seu lançamento em dezembro de 2013, o Gaia começou a registrar dados cerca de seis meses após a ativação, desempenhando um papel crucial na cartografia da nossa galáxia. Com operações programadas até 15 de janeiro de 2025, a missão está chegando ao fim, visto que o combustível do telescópio já é escasso.

O Gaia se destacou como um cartógrafo excepcional da Via Láctea, revelando não apenas a sua estrutura, mas também sua história. A missão tinha como principal objetivo criar o mapa mais preciso e tridimensional das posições e velocidades de um bilhão de estrelas, gerando dados que se tornaram referência para outros telescópios, como o Telescópio Espacial James Webb da NASA e a missão Euclid da ESA.

Além desses, futuramente, o Observatório Vera C. Rubin e o Telescópio Extremamente Grande da Europa, ambos localizados no Chile, também farão uso do vasto banco de dados gerado pelo Gaia.

Com suas medições abrangentes, o Gaia criou uma verdadeira enciclopédia de posições e movimentos de objetos celestes, mapeando quase dois bilhões de estrelas, milhões de galáxias e cerca de 150 mil asteroides. Os dados obtidos resultaram em mais de 13 mil publicações científicas, impactando diversos ramos da astronomia e cosmologia. Com as informações do Gaia, astrofísicos encontraram indícios de novos planetas e buracos negros, e os cosmologistas utilizaram os registros de estrelas pulsantes para medir a taxa de expansão do Universo.

“Esse recurso agora sustenta quase toda a astronomia moderna”, declarou Anthony Brown, astrônomo da Universidade de Leiden, na Holanda, e líder do grupo de processamento e análise de dados do Gaia.

Durante esses mais de dez anos, o Gaia girou lentamente no espaço, com telescópios gêmeos que escanearam o céu e capturaram luz óptica, permitindo análises detalhadas de temperatura, massa e composição química de estrelas e outros corpos celestes.

Nos últimos meses, a equipe da ESA tem realizado testes técnicos finais nos instrumentos da espaçonave, que podem ser úteis na operação de futuros telescópios. A ESA divulgou um vídeo emocionante no Bluesky, mostrando a sequência final de comandos enviados ao telescópio, numa homenagem ao seu legado.

“É um momento agridoce quando uma missão para de coletar dados. Mas a contribuição científica que o Gaia deixou está longe de terminar”, afirmou Johannes Sahlmann, físico da ESA e cientista do projeto.

Atualmente, apenas uma fração dos dados coletados pelo Gaia está acessível aos pesquisadores, devido à complexidade de processamento dos imensos volumes de informações. A próxima liberação de dados está prevista para 2026, contemplando cinco anos e meio de observações. A liberação final, contendo o conjunto completo, deve ocorrer em 2030.

A surpresa não para por aí! Cientistas europeus já estão desenvolvendo uma nova missão para dar continuidade ao legado galáctico do Gaia, planejando um telescópio que irá captar luz infravermelha. As expectativas são altas e a comunidade científica está ansiosa por novas descobertas nas profundezas do cosmos.