"Eu não sei onde isso vai dar", desabafou uma mãe durante uma sessão de análise, refletindo uma angústia que ressoa com muitos pais hoje em dia. Essa aflição é palpável, similar às emoções vividas pelos personagens da série ‘Adolescência’, um verdadeiro sucesso da Netflix.

As histórias da série capturam problemas que são reflexos diretos da vida de muitos, como a criação dos filhos, especialmente na transição para a adolescência. A sensação de impotência gerada pela série desencadeou discussões intensas em grupos de pais, nas redes sociais e entre amigos, todos tentando encontrar respostas para questões que afligem a sociedade contemporânea.

Entender como lidar com os desafios de criar um filho em um mundo tão incerto é uma preocupação comum. Dúvidas como “O que é certo?” e “Como posso proteger meu filho?” pairam sobre a mente dos pais, evidenciando a falta de um manual único que possa responder a essas perguntas. Assim, a série destaca a realidade de que não há garantias em relação ao futuro de nossos filhos, mesmo com todo o amor e esforço que dedicamos a eles.

Por essa razão, aceitar a incerteza é uma tarefa difícil, especialmente quando se trata da vida dos nossos filhos. No entanto, isso não significa que os pais estão impotentes. Apesar das dificuldades, é possível buscar formas de criar um ambiente mais seguro e saudável.

A crescente sensação de culpa entre os pais é uma realidade atual. Como diz um antigo ditado, "Nasce uma mãe, nasce uma culpa", refletindo como a parentalidade é cercada por expectativas e pressões. O renomado psicanalista Freud enfatizava que educar não é tarefa simples; é um exercício de vulnerabilidade e aceitação diante da incerteza.

Diferentemente das gerações passadas, que se apoiavam em estruturas sociais rígidas, os pais de hoje enfrentam uma solidão exacerbada pelo individualismo. Antigamente, mesmo que os métodos educativos fossem frequentemente violentos, havia uma certa confiança coletiva que minimizava a culpa sobre os erros. Hoje, no entanto, as relações comunitárias se tornaram mais fracas, e essa falta de apoio acentua o medo de errar por parte dos pais.

A série ‘Adolescência’ ilustra isso de forma brilhante, destacando a mensagem de que a educação atualmente precisa ser baseada na compreensão e no amor, em vez da violência física. No entanto, essa mudança de abordagem também traz suas armadilhas, pois agora os pais se sentem mais expostos a cobranças e culpas.

Zygmunt Bauman, o sociólogo, também analisou as consequências da liberdade crescente em contraposição à segurança. Hoje, vivemos em um mundo onde a liberdade é abundante, mas a segurança é escassa. Isso torna o ato de educar ainda mais desafiador, pois os pais precisam navegar por essas novas águas tempestuosas sem referências claras sobre o que é certo ou errado.

Assim, enquanto os pais lutam para fazer o que acreditam ser o melhor, a falta de apoio coletivo e a pressão constante por resultados podem ser esmagadoras. Apenas construindo soluções coletivas e discutindo abertamente sobre os desafios da parentalidade, poderemos começar a aliviar essa angústia que permeia a criação dos filhos na sociedade contemporânea. Nesse contexto, os desafios permanecem, mas é fundamental lembrar que, mesmo sem ter todas as respostas, o amor e a intenção genuína de querer fazer o melhor são os primeiros passos para um futuro melhor.