Ciência

As incríveis 'plantas zumbis' que ressurgem após a seca

2025-03-30

Autor: Ana

Você sabia que existem 'plantas zumbis' que conseguem voltar à vida após longos períodos de seca? Este fenômeno surpreendente foi observado pela primeira vez pela cientista Jill Farrant, quando era criança na África do Sul nos anos 70. Desde então, Farrant se dedicou a estudar essas plantas extraordinárias que podem sobreviver sem água por seis meses ou até mais.

Essas plantas possuem a capacidade de desidratar quase completamente, suas folhas murcham e ficam marrons, mas, ao receberem água, recuperam a coloração verde em questão de horas. Essa habilidade não está restrita a musgos ou samambaias, como muitos poderiam pensar, mas também se aplica às angiospermas, que incluem árvores frutíferas e culturas agrícolas essenciais.

A evolução desse mecanismo notável ocorreu em um contexto diferente para cada espécie, d evidenciando a incrível capacidade de adaptação da vida. As plantas de ressurreição normalmente habitam ambientes áridos, como encostas rochosas na África do Sul, Austrália e América do Sul, onde desenvolveram métodos semelhantes para enfrentar a seca.

A importância dessas plantas vai além do que se imagina. Farrant, atualmente professora da Universidade da Cidade do Cabo, acredita que os genes que conferem resistência à seca poderiam ser a chave para garantir a segurança alimentar em um futuro afetado pelas mudanças climáticas. Se técnicas que permitem à agricultura comum se tornarem mais resilientes a esses climas extremos forem desenvolvidas, o impacto na produção de alimentos pode ser monumental.

A maioria das plantas não consegue sobreviver a perdas de água superiores a 30%, enquanto essas plantas conseguem tolerar mais de 95%. Além disso, enquanto culturas como milho e trigo podem morrer após um episódio de seca, as plantas de ressurgimento mostram uma recuperação completa em sua estrutura, o que poderia ser um objetivo para a biotecnologia.

As plantas de ressurreição utilizam um processo chamado vitrificação, onde transformam o interior de suas células em uma substância semelhante ao vidro que as ajuda a sobreviver. Este mesmo mecanismo é observado em pequenos organismos, como os tardígrados, que também conseguem resistir a condições extremas.

Este conhecimento tem aplicação prática: a transferência desse talento para culturas agrícolas poderia oferecer uma solução essencial. A indústria agrícola enfrenta o desafio crescente de secas severas, exacerbadas pelas mudanças climáticas e pelo aumento das temperaturas globais, que em 2023 causaram prejuízos de aproximadamente R$ 95,2 bilhões na agricultura dos EUA.

Os estudos atuais visam não apenas entender a genética por trás da resistência das plantas de ressurreição, mas também integrá-los a culturas fundamentais como arroz e milho. Tecnologias como CRISPR podem facilitar essa inserção de genes, permitindo uma adaptação mais rápida e ética.

Essa busca por plantas mais resistentes é essencial, especialmente em um cenário onde secas severas e frequentes estão se tornando a nova normalidade. Farrant e sua equipe poderiam estar na vanguarda de uma nova revolução agrícola, onde a resiliência se tornará a nova prioridade na produção de alimentos, garantindo que a agricultura não só sobreviva, mas prospere em um mundo cada vez mais árido.

Profissionais já começaram a investigar o potencial do microbioma das raízes – o ecossistema de microrganismos que vive no solo – como parte da solução. Este esforço reflete a urgência em garantir que a próxima geração de culturas possa resistir à escassez de água, mantendo a produção alimentar de forma sustentável e em harmonia com as condições climáticas que se tornam mais extremas.