Enquanto Nvidia e Microsoft dominam os holofotes do mundo da tecnologia, há uma empresa holandesa que se destaca como um verdadeiro titã oculto: a ASML. Apesar de não ser a primeira que vem à mente quando se fala em inteligência artificial, a ASML tem um papel indispensável na fabricação dos chips que alimentam essa tecnologia revolucionária.

Fundada a partir de uma joint venture entre a Philips e a fabricante de máquinas de chips ASMI há 40 anos, a ASML possui um valor de mercado impressionante, em torno de € 300 bilhões. Isso coloca a companhia entre as maiores da Europa, competindo com nomes famosos como Novo Nordisk e LVMH.

Em um cenário onde as ações estão sendo negociadas a valores historicamente baixos, a ASML se apresenta como uma oportunidade inovadora, especialmente quando comparada com os altos múltiplos de outras empresas de seu setor, como a Nvidia, que é negociada a 40 vezes o lucro projetado.

Curiosamente, a história da ASML remete ao passado de outra poderosa corporação holandesa: a Companhia Holandesa das Índias Orientais, que, no século XVII, monopolizava o comércio de especiarias entre Europa e Ásia. Hoje, a ASML é um pilar essencial na indústria de semicondutores, criando um impacto profundo no nosso dia a dia que muitas vezes passa despercebido.

Os chips são fundamentais em diversas tecnologias, dos smartphones aos carros autônomos. Com o aumento da demanda por inteligência artificial, a necessidade de chips mais potentes e eficientes se torna imperativa. Cada vez menores e mais avançados, esses semicondutores são essenciais para tecnologias emergentes e também para sistemas de defesa.

A ASML é a única empresa do mundo capaz de fabricar as máquinas de litografia ultravioleta extrema (EUV), essenciais para a produção de chips de última geração. Essas máquinas possuem um custo que varia de US$ 150 a 350 milhões e são capazes de criar padrões extremamente miniaturizados em wafers de silício.

A importância dessa tecnologia é tal que os EUA têm impedido a ASML de vender seus equipamentos mais modernos para a China, uma decisão que reflete as tensões geopolíticas atuais e a luta pelo domínio tecnológico global. Atualmente, a China representa cerca de 25% dos negócios da ASML, o que coloca a empresa em uma posição delicada no cenário internacional.

Nos últimos meses, a ASML enfrentou turbulências após um erro técnico que antecipou os números do seu terceiro trimestre, resultando em uma queda de mais de 15% nas ações da empresa. O relatório revelou resultados abaixo do esperado, comprometendo a confiança do mercado em sua produtividade futura e aumentando as incertezas sobre a sua capacidade de crescer, especialmente em um setor cíclico como o de chips de memória.

Entretanto, a ASML está bem posicionada para capitalizar sobre a crescente demanda por soluções de inteligência artificial, Internet das Coisas e computação de alto desempenho. A introdução de sua tecnologia de próxima geração, chamada High NA, promete levar a produção de chips a um novo nível de eficiência e potência.

Além disso, as tensões geopolíticas em torno da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), uma das principais clientes da ASML, podem impactar toda a cadeia de suprimentos global de semicondutores. Um conflito na região certamente teria repercussões sérias não apenas para a ASML, mas para toda a indústria.

Com um backlog robusto, a ASML projeta um aumento de receita em torno de 20% para 2025, e as perspectivas para o futuro continuam a ser promissoras. A meta de receita para 2030 está entre € 44 e 60 bilhões, o que poderia triplicar seus lucros por ação. Assim, embora a competição no campo da inteligência artificial seja feroz, a probabilidade de que as tecnologias vencedoras estejam utilizando chips desenvolvidos pela ASML é altíssima.

No fim das contas, à medida que avançamos para um futuro cada vez mais tecnológico e competitivo, a ASML pode ser a chave para desbloquear o potencial da inteligência artificial e de várias outras inovações que moldarão a próxima era de crescimento tecnológico.