Ciência

Assessoria Científica: A Revolução que os Governos Precisam

2024-12-09

Autor: Lucas

A Nature, uma das revistas científicas mais renomadas do mundo, lançou uma série de artigos alarmantes sobre a integração das evidências científicas nas políticas públicas. Ao conduzir uma pesquisa com 400 especialistas globalmente, a revista revelou um cenário preocupante: 80% dos participantes consideram que a assessoria científica em seus países é "fragmentada" ou "ruim", enquanto 70% afirmam que os governos não fazem uso adequado das evidências científicas.

Os principais entraves apontados por esses especialistas incluem a falta de letramento científico entre os formuladores de políticas — tanto políticos quanto burocratas — e o desconhecimento por parte da comunidade científica sobre como operam os sistemas de governança e a legislação. Essa desconexão cria um abismo entre ciência e política, o que pode ter consequências desastrosas para a sociedade.

Esse problema não é uma novidade. Existem diversos estudos que já destacam a urgência de aprimorar a utilização de evidências científicas na elaboração de políticas. Um relatório de 2013 intitulado “Futuras Direções sobre Assessoria Científica para o Governo Britânico” já mencionava a falta de treinamento adequado e outros obstáculos que impedem uma assessoria eficaz. Da mesma forma, o Centro de Pesquisa da União Europeia também realizou investigações significativas sobre o uso de evidências científicas nas políticas públicas, com um relatório recente em 2024 que analisa a perspectiva de cientistas e formuladores de políticas sobre o ecossistema de assessoria científica na Europa.

As conclusões são claras: a falta de treinamento e interação efetiva leva a um distanciamento crescente, onde políticos e cientistas não conseguem dialogar. Ignorar a ciência ao formular políticas é tão irresponsável quanto ignorar dados antes de lançar um foguete ao espaço.

No entanto, algumas iniciativas estão sendo implementadas para melhorar este cenário. A Sociedade para o Progresso da Ciência dos EUA (AAAS) tem um programa de imersão que permite a jovens cientistas participar de decisões no Congresso. Recentemente, o governo espanhol nomeou 22 assessores científicos para cada um de seus departamentos, seguindo o modelo britânico, uma ação que pode ser inspiradora.

No Brasil, o Instituto Questão de Ciência (IQC), que tenho a honra de presidir, foi um dos pioneiros em alertar para essa temática. Nosso lema, "por políticas públicas baseadas em evidências científicas", tem sido repetido à exaustão, mas o que se observa são práticas sem respaldo científico sendo aprovadas, como no caso do Ministério da Saúde. Após anos de advocacy, ainda carecemos de métricas que realmente aferem a efetividade das políticas públicas implementadas.

Além disso, originamos a sugestão, ainda não atendida, de criar o cargo de Assessor Especial da Presidência para Assuntos Científicos, em um modelo semelhante ao já adotado por países como Reino Unido, EUA, Nova Zelândia, Austrália, Índia e Canadá. Fiquemos todos atentos, pois ao vermos um tema tão crítico finalmente sendo abordado em uma publicação de grande relevância como a Nature, percebemos que essa discussão está longe de terminar, mas precisa urgentemente ganhar força e ação nos corredores do poder.