Ciência

Avanços Incríveis: Estimulação Cerebral Restaura Movimentos Perdidos em Pacientes com Paralisia

2024-12-27

Autor: Carolina

Wolfgang Jäger, um austríaco que teve sua vida drasticamente mudada por um acidente de esqui em 2006, conseguiu voltar a andar pela primeira vez em 17 anos. Com apenas 36 anos na época do acidente, ele ficou paraplégico e passou a depender de uma cadeira de rodas para se locomover. No entanto, graças a uma técnica experimental de estimulação cerebral profunda (DBS), que foi recentemente revelada por pesquisadores do Hospital Universitário de Lausanne (CHUV) e da Escola Politécnica de Lausanne (EPLF), ele agora pode caminhar na areia da praia e subir degraus.

Os resultados dessa pesquisa foram publicados na revista Nature Medicine, onde cientistas descrevem como a estimulação da região do hipotálamo lateral no cérebro pode reativar neurônios e resultar em melhorias significativas na mobilidade em pacientes com lesões na medula espinhal. Os participantes do estudo relataram um aumento imediato na resistência ao caminhar, além de uma redução no esforço percebido.

O estudo de Lausanne não só identifica uma nova aplicação para a DBS, tradicionalmente utilizada no tratamento de distúrbios de movimento, mas também revela que a estimulação pode ter benefícios duradouros mesmo após o desligamento do dispositivo. De acordo com Grégoire Courtine, um dos principais pesquisadores do estudo, essa abordagem inovadora reorganiza as fibras nervosas que ainda restam na medula, promovendo o que ele chama de 'melhorias neurológicas sustentadas'.

A técnica representa uma mudança de paradigma no tratamento de paralisias e leva a uma reflexão sobre o papel do cérebro na recuperação de funções motoras. Courtine explica que esta descoberta desafia a crença anterior de que apenas a medula espinhal era o foco principal para a recuperação após uma lesão.

O sucesso da DBS na pesquisa é resultado de uma combinação bem-sucedida entre métodos de pesquisa em modelos animais e uma abordagem cirúrgica precisa em humanos. Durante a cirurgia, a equipe utilizou imagens detalhadas do cérebro para posicionar os eletrodos com exatidão, enquanto os pacientes estavam acordados, permitindo ajuste em tempo real durante o procedimento.

A identificação do hipotálamo lateral como uma área crucial para a recuperação motora é uma ocorrência significativa, uma vez que esta região do cérebro é frequentemente associada a funções como alimentação e regulação emocional, em vez de controle motor. Jordan Squair, um dos autores do estudo, destaca a importância do trabalho fundamental que levou ao mapeamento detalhado das funções cerebrais.

As implicações dessa pesquisa vão além, abrindo portas para novas terapias que podem revolucionar o tratamento de lesões na medula espinhal. Os próximos passos dos pesquisadores incluem a combinação da DBS com outras abordagens, como implantes espinhais que já mostraram efeito positivo na restauração do movimento. Courtine acredita que a integração das duas abordagens pode resultar em uma estratégia de recuperação mais abrangente e eficaz.

Adicionalmente, outra pesquisa impactante da Universidade de Louisville, nos Estados Unidos, mostrou que a estimulação epidural da medula espinhal, aliada ao treinamento locomotor, permitiu que pacientes com paralisia motora completa recuperassem a capacidade de andar em ambientes controlados. Essas descobertas conjunto sugerem uma era nova para a neuroreabilitação, onde a estimulação cerebral profunda e técnicas de estimulação medular podem criar uma rede de recuperação funcional.

No Brasil, a estimulação cerebral e medular já é uma realidade em tratamentos para condições como dor crônica e Parkinson, mostrando resultados promissores. A perspectiva de aplicar essas novas técnicas em casos de paralisia traz esperança para muitos pacientes, abrindo novas possibilidades de reabilitação funcional altamente eficaz. Essa fusão do avanço tecnológico com a neurociência continuará a transformar a forma como encaramos e tratamos lesões complexas e paralisias no futuro.