BC e o Dólar: Entenda por que a moeda ainda está acima dos R$ 6 e o que o pacote fiscal tem a ver com isso
2024-12-18
Autor: Lucas
O cenário da economia brasileira continua tenso, e a cotação do dólar reflete essa instabilidade. Recentemente, o dólar só apresentou uma leve queda após o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciá-la votação de dois projetos do pacote fiscal do governo. Apesar do movimento pontual, a moeda encerrou o dia praticamente estável, com leve alta de 0,02%, cotada a R$ 6,0956, atingindo um novo recorde, enquanto o Ibovespa subiu 0,92%, alcançando 124.698 pontos.
Especialistas afirmam que as recentes intervenções do Banco Central (BC) não surtiram o efeito esperado, indicando que o problema central está na situação fiscal do país. Alexandre Viotto, gerente de câmbio da EQI Investimentos, afirma que o comportamento do dólar depende diretamente da confiança no equilíbrio fiscal.
Para exemplificar a situação, Lira mencionou que a votação dos projetos não garantia a aprovação imediata das medidas, mas suas palavras foram suficientes para fazer o dólar atingir sua mínima do dia, R$ 6,0643. A volatilidade é um reflexo da insegurança do mercado.
O primeiro leilão extraordinário de dólares à vista realizado pelo BC foi logo pela manhã, antes mesmo da abertura do mercado. Essa ação aconteceu depois que a moeda atingiu a marca de R$ 6,16, mostrando uma alta notável de quase 1% em relação ao fechamento do dia anterior. Até o momento, somadas as intervenções, o BC já havia vendido US$ 3,287 bilhões, superando os recordes anteriores de intervenções em momentos de crise, como o início da pandemia.
Recentes movimentos do governo, como o pacote fiscal que promete cortes de gastos e isenções no Imposto de Renda para quem ganha menos de R$ 5 mil, não conseguiram reverter a onda de pessimismo que tomou conta do mercado. A proposta foi considerada ineficaz, e a pressão para a votação das medidas é vista com ceticismo, levando muitos analistas a prever uma desidratação do pacote no Congresso. Walter Maciel, CEO da AZ Quest, argumenta que as promessas apresentadas são insuficientes para um real impacto econômico.
A situação se agrava ainda mais com a crise de confiança fiscal que o país enfrenta. A economista Solange Srour, do UBS Global Wealth Management, salienta que, em um cenário de desconfiança, a política monetária do BC acaba sendo vista como ineficaz e, em vez de acalmar o mercado, as intervenções podem aumentar a incerteza. Além disso, o Tesouro Nacional anunciou o cancelamento de um leilão de títulos programado, o que evidencia as dificuldades do governo em arcar com as suas dívidas. Enquanto isso, a taxa Selic continua elevada, em 12,25% ao ano, o que faz com que os investidores fiquem mais apreensivos diante de possíveis perdas com títulos prefixados.
A expectativa é que o BC continue intervindo no câmbio, mas especialistas como Viotto acreditam que isso pode não alterar a trajetória do dólar, que reside em fatores além do controle do órgão. O alerta é claro: a recuperação da moeda brasileira depende de medidas fiscais concretas e eficazes.