Ciência

Brasil enfrenta desafios na recuperação de manguezais, essenciais para combater a mudança climática

2024-11-18

Autor: Gabriel

Os manguezais brasileiros desempenham um papel crucial na absorção de dióxido de carbono, estocando o equivalente a R$ 500 milhões em créditos de carbono, segundo um estudo recente. Apesar de sua importância, a recuperação desses ecossistemas no Brasil ainda enfrenta enormes desafios.

Um novo estudo mostra que, mesmo após a degradação, os manguezais têm a capacidade de reabsorver até três quartos do carbono emitido quando são destruídos. Esses ecossistemas, caracterizados por suas árvores com raízes expostas que sobrevivem em solos lamacentos, são vitais para a mitigação das emissões de CO2.

Apesar da proteção legal existente, que garante que mais de 80% dos manguezais brasileiros estejam em áreas de conservação, como parques e reservas, muitos continuam a ser ameaçados por poluição, urbanização e projetos de infraestrutura, como expansões portuárias. Em algumas regiões, como o Nordeste, a degradação é ainda mais crítica devido à transformação de manguezais em áreas para a criação de camarões ou fabricação de sal.

A proposta de emenda constitucional conhecida como PEC das Praias pode ainda abrir uma brecha para privatizações que dificultariam a recuperação de terras originalmente cobertas por manguezais. Entretanto, iniciativas de recuperação têm mostrado resultados promissores. Um projeto na foz do rio Cocó, em Fortaleza, demonstrou que áreas antes degradadas podem se recuperar rapidamente, atingindo níveis de estocagem de carbono comparáveis aos manguezais bem preservados em menos de uma década.

Um passo importante foi dado com o lançamento do Programa Nacional para a Conservação e Uso Sustentável dos Manguezais do Brasil (ProManguezal), criado para promover a conservação, recuperação e uso sustentável dos manguezais, levando em conta as pressões climáticas que os afetam.

Com um investimento inicial de R$ 47 milhões para a recuperação de 1.750 hectares de manguezais e restingas em várias regiões do Brasil, o BNDES começou a apoiar esses projetos, mas especialistas como o oceanógrafo Mario Luiz Soares, da UERJ, apontam que o foco deve ser também em preservação junto à restauração.

As conclusões de um estudo coordenado pelo Serviço Florestal dos EUA ressaltam a rapidez com que os manguezais replantados podem recuperar suas capacidades de armazenamento de carbono. Em média, em cinco anos, eles podem estocar cerca de 25% do carbono de manguezais naturais e até 75% em 20 anos, dependendo das condições de degradação e das espécies de árvores replantadas.

Recentemente, esse "carbono azul" ganhou destaque nas discussões sobre mudança climática, pois os manguezais não apenas ajudam a capturar carbono, mas também atuam como barreiras naturais contra a erosão costeira, protegendo comunidades litorâneas de ondas e tempestades.

Estudos indicam que o replantio de 6.665 km² de manguezais altamente recuperáveis pode permitir o armazenamento de até 46 milhões de toneladas de carbono em 20 anos. Isso representa um potencial significativo para ajudar países a cumprir suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa.

No entanto, enquanto o interesse no uso de créditos de carbono por empresas cresce, é fundamental que os projetos de restauração sejam realizados em áreas adequadas, evitando danos a ecossistemas sensíveis. A luta pela recuperação dos manguezais é também uma luta pelo futuro do nosso clima e pela proteção da biodiversidade marinha.