Brasileiras se apaixonam por condenado à morte no TikTok: o que está por trás dessa atração?
2024-12-26
Autor: Carolina
Recentemente, um caso chocante tem chamado a atenção nas redes sociais: diversas brasileiras têm se manifestado como admiradoras de Wilson, um condenado à morte, no TikTok. Algumas chegam a pedir que ele não seja executado, e o UOL revelou que Wilson recebeu quase 4.000 mensagens e 754 fotos de admiradoras entre junho e julho, período em que um júri decidiu pela pena capital. Essa informação foi divulgada pelo gabinete do xerife do condado de Lee, onde Wilson está preso.
As seguidoras de Wilson não se limitaram apenas a mensagens nas redes sociais; muitas delas escreveram ao juiz do caso, solicitando que a pena de morte fosse substituída por uma sentença de prisão perpétua. Entre as remetentes, há mulheres com filhos, pessoas que alegam ter conhecido o preso e até aquelas que acreditam que ele pode se tornar uma pessoa melhor se tiver a chance de reabilitação.
Mas o que pode explicar essa atração por criminosos? Segundo especialistas, essa fenômeno é conhecido como hibristofilia, que se refere à atração, tanto de homens quanto de mulheres, por indivíduos que cometem crimes violentos, como assassinatos e estupros. A psicóloga Maria de Fátima Franco dos Santos explica que uma série de fatores pode contribuir para que algumas mulheres se apaixonem por homens como Wilson, incluindo histórico de violência na infância, baixa autoestima e carência afetiva.
Além disso, a aparência física do criminoso também desempenha um papel significativo na atração. Muitas mulheres se sentem atraídas não apenas pela notoriedade do crime, mas também pelos traços físicos que consideram desejáveis. "A combinação entre fama e beleza pode criar uma imagem idealizada do criminoso que desvia o foco de seus atos violentos", ressalta a especialista.
O fenômeno é intensificado pela cobertura midiática e pelas redes sociais, onde a glorificação do criminoso muitas vezes eclipsa o sofrimento das vítimas. A mestranda Katharina da Silva, da USP, aponta que enquanto no passado as admiradoras costumavam escrever cartas ou se aglomerar em frente a delegacias, hoje elas publicam vídeos editados nas redes sociais, tratando o criminoso como um ídolo. Essa mudança na forma de manifestação de afeto demonstra como a cultura digital tem remodelado a forma como a paixão por criminosos é expressa.
O interesse social por crimes, especialmente os considerados bárbaros, não é uma exclusividade brasileira ou americana. No Brasil, o caso de Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”, que assassinou sete mulheres, teve uma repercussão similar. Em apenas um mês após sua prisão, ele já havia recebido cerca de mil cartas de mulheres interessadas.
"É triste perceber que enquanto os criminosos se tornam alvo de admiração, as vítimas permanecem invisíveis", conclui o psicólogo forense Matheus Oliveira. Ele alerta que essa dinâmica demonstra uma necessidade de atenção e glamour que muitos buscam na vida de figuras polêmicas, mesmo que derrotando a lógica da empatia e do respeito às vítimas.
Assim, o que parece ser um fenômeno de adoração a criminosos expõe não apenas a fragilidade emocional de algumas pessoas, mas também um questionamento cultural profundo sobre a forma como a sociedade enxerga a violência e suas consequências.