Saúde

Butanvac: O Fracasso Que Mudou o Rumo das Vacinas Contra a Covid no Brasil!

2025-01-04

Autor: Lucas

Após três anos de intensos testes, o Instituto Butantan anunciou o fim do desenvolvimento da Butanvac, vacina que prometia ser a solução nacional contra a Covid-19. Desde o seu lançamento em 2021, a expectativa em torno da Butanvac era enorme, especialmente após a divulgação inicial feita pelo Governo de São Paulo, que a propunha como uma alternativa totalmente brasileira. A expectativa era que a tecnologia baseada em ovos embrionados de galinha permitisse uma produção rápida de milhões de doses, algo que o Butantan já dominava na fabricação de vacinas contra a gripe.

Entretanto, a vacina se baseava em partículas virais da doença de Newcastle, uma enfermidade que acomete aves, sendo que a tecnologia foi desenvolvida por cientistas do Mount Sinai, em Nova York. O apoio de organizações como a Path e a Fundação Bill e Melinda Gates foi vital, mas a revelação da origem estranha gerou desconfortos, potencialmente prejudicando os acordos e a imagem do projeto.

A tecnologia utilizada visava proporcionar segurança, já que as partículas do vírus não causam doença em humanos. Além disso, a vacina apresentava uma perspectiva de baixo custo, estimada em apenas R$ 10 por dose, em comparação com os preços elevados de outras alternativas. No entanto, com o progresso da vacinação no Brasil, onde já se usavam as vacinas Coronavac e AstraZeneca, a Butanvac enfrentava o desafio de se afirmar com um novo imunizante no mercado, onde já se começava a notar a eficácia das vacinas de RNA mensageiro, como as desenvolvidas pela Pfizer.

O avanço rápido das vacinas de RNA, impulsionado por iniciativas como o programa Warp Speed do governo americano, elevou as expectativas em torno das vacinas, colocando a Butanvac em um cenário competitivo desfavorável. Os aplicativos de outras vacinas acabaram revelando que as vacinas inativadas, como a Butanvac, apresentavam respostas imunes muito inferiores em comparação àquelas de RNA.

Após uma série de atrasos e promessas não cumpridas, os estudos foram interrompidos em agosto de 2024, quando os resultados da fase 2 mostraram que a Butanvac não conseguia gerar anticorpos em níveis comparáveis aos da vacina Comirnaty, da Pfizer. O desfecho foi um duro golpe para o Butantan e um exemplo da complexidade envolvida no desenvolvimento de vacinas, que não se pode subordinar a prazos políticos.

Além da Butanvac, vacinas com a mesma tecnologia foram testadas em outros países, como Vietnã e Tailândia, que inclusive obtiveram autorização para uso emergencial. Esses exemplos mostram que, mesmo tendo a mesma base, as vacinas podem apresentar resultados diversos e devem ser analisadas individualmente, levando em conta características como potência e estabilidade.

A frustração gerada pela Butanvac destaca a necessidade de investimento robusto e consistente no desenvolvimento de vacinas em uma era onde a velocidade é crucial. O Brasil busca ainda alcançar a autossuficiência em vacinas, mas a jornada é longa e cheia de desafios. O Instituto Butantan tornou-se um símbolo das ambições nacionais de autonomia em saúde, mas a realidade mostrou que a capacidade de inovações rápidas é um imperativo.

Embora a Butanvac não tenha se consolidado como esperado, o aprendizado que vem dele poderá guiar futuros esforços em busca de vacinas eficientes e seguras. A busca contínua por novas tecnologias, incluindo a construção de uma fábrica de vacinas de RNA mensageiro prevista para 2027, é uma demonstração do compromisso do Butantan em não desistir até conquistar a desejada autossuficiência. Enquanto isso, projetos como a Multicovax e as vacinas em desenvolvimento na UFMG mostram que o Brasil ainda pode se recuperar desse revés e seguir em frente em sua luta contra a Covid-19.