A prática de cadáveres congelados para treinamentos médicos

A prática de utilizar cadáveres congelados para treinamentos médicos, especificamente para procedimentos estéticos, gerou um grande alvoroço entre os profissionais da área da saúde no Brasil. Segundo Mohamad Abou Wadi, cirurgiã-dentista e CEO do Grupo Kefraya, que comanda o Instituto de Treinamento em Cadáveres Frescos (ITC), a utilização de cadáveres preservados pela técnica de congelamento conhecida como 'fresh frozen' está se tornando cada vez mais comum em instituições de ensino.

Instituições que utilizam cadáveres congelados

No Brasil, duas instituições se destacam nesse tipo de treinamento: o ITC e a Faculdade CTA, localizada em Campinas. O termo 'fresh frozen' refere-se a corpos humanos que são congelados para serem preservados, diferentemente da prática mais tradicional de embalsamamento químico, que utiliza formol.

Vantagens do uso de cadáveres congelados

Vale destacar que a utilização de cadáveres congelados permite uma experiência de aprendizado muito mais próxima da realidade que os alunos enfrentarão em suas carreiras. O congelamento mantém a integridade dos tecidos de forma que os alunos podem praticar técnicas como aplicações de PDO e ácido hialurônico de maneira mais eficaz.

Experiência de treinamento na Faculdade CTA

A professora Erika Bueno Camargo, da Faculdade CTA, explica que cada pedaço de tecido pode ser utilizado diversas vezes durante o treinamento, mas eventualmente precisa ser devolvido aos Estados Unidos, onde são tratados. Ela menciona que a durabilidade desses materiais congelados pode ser de alguns meses, embora essa técnica seja bastante mais cara.

Sensação realista e segurança nos procedimentos estéticos

Entre as vantagens de usar cadáveres frescos para treinamento está a sensação realista que os alunos experimentam, como a percepção da rigidez cadavérica e a textura dos tecidos, fatores que são cruciais para a execução de procedimentos estéticos com segurança e eficácia.

Importância do treinamento em cadáveres

Maurício defende que o treinamento em cadáveres é tão essencial quanto o aprendizado de técnicas cirúrgicas em ambientes invasivos, destacando que a familiarização com anatomia humana direta e experiencial é fundamental. “A realização incorreta de um procedimento estético pode não apenas frustrar o profissional, mas também representar riscos sérios para os pacientes”, alerta.

Desafios e limitações na disponibilidade de cadáveres

Além disso, a disponibilidade de cadáveres frescos para treinamento é limitada no Brasil, levando algumas instituições a enfrentarem uma escassez de matérias-primas para estas práticas. As doações de corpos são regulamentadas, sendo que normalmente acontecem quando famílias não reclamam os corpos dentro de um prazo de 30 dias após o óbito, ou quando a pessoa decide, em vida, que deseja doar seu corpo à ciência.

Métodos alternativos de ensino

Consequentemente, muitas instituições têm recorrido a métodos alternativos de ensino, como o uso de manequins e robôs, que, embora sejam valiosos, não substituem a relevância da prática em tecidos humanos.

Ética e práticas educacionais na área da saúde

A controvérsia sobre o uso de cadáveres congelados traz à tona a necessidade de um debate mais amplo sobre ética e práticas educacionais na área da saúde. Aos estudantes e profissionais, insistentemente se relembra: mais do que técnica, é preciso compreender o ser humano em sua totalidade.