Cápsula Mágica Revela a Verdadeira Doença de Jovem Após Anos de Sofrimento
2024-11-21
Autor: Gabriel
Desde a infância, Maria Júlia Veiga, de 24 anos, enfrentou problemas intestinais que a levaram a internações frequentes e sintomas intensos, começando a partir dos 17 anos, incluindo uma drástica perda de peso. Diversos exames, dietas e tratamentos não conseguiam apontar um diagnóstico preciso sobre o que realmente a afetava.
"Os médicos chegaram a pensar que era algo psicológico, além de diagnosticarem gastrite crônica e síndrome do intestino irritável", relembra Maria Júlia, residente em Salvador.
Em 2019, após inúmeras consultas com especialistas sem resultados, ela fez um exame inovador chamado cápsula endoscópica. "Engoli uma cápsula que percorreu todo o meu trato gastrointestinal tirando fotos. Um monitoramento feito por um cinto magnético registrou todo o percurso. Com essas imagens, finalmente tive um diagnóstico: doença de Crohn", explica ela.
A doença de Crohn é uma condição inflamatória crônica que pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus. Segundo o gastroenterologista Alexandre de Sousa Carlos, muitas vezes a doença prejudica áreas do intestino que não são visualizadas por exames tradicionais, como a colonoscopia. Isso foi precisamente o que aconteceu com Maria Júlia, que havia feito vários exames sem obter respostas conclusivas.
De acordo com o Dr. Alexandre, "cada caso de Crohn é único, pois a doença apresenta um espectro muito heterogêneo, afetando diferentes regiões do intestino de maneiras distintas". Por essa razão, é crucial utilizar métodos de diagnóstico modernos.
Os principais exames para investigar a doença são a enteroscopia por balão e a cápsula endoscópica, mas esses exames ainda não estão disponíveis pelo SUS. A enteroscopia é um procedimento mais invasivo, enquanto a cápsula endoscópica é um método não invasivo que revolucionou o diagnóstico das patologias do intestino delgado, conforme aponta Cristiane Kibune Nagasako, endoscopista do Fleury Medicina e Saúde.
O processo da cápsula endoscópica envolve a deglutição de uma cápsula que captura imagens do intestino delgado. O paciente é monitorado por um cinto que coleta as imagens transmitidas e, após a análise, o médico pode diagnosticar condições como a doença de Crohn, sangramentos, ou até anemia por deficiência de ferro.
Infelizmente, o tempo para chegar a um diagnóstico pode levar anos. Estudos mostram que aproximadamente 12% dos pacientes do Brasil demoram mais de três anos para procurar um médico especialista e 43% visitam pronto-socorros pelo menos quatro vezes antes de receberem um diagnóstico correto. Isso pode levar a consequências sérias, como problemas de autoestima, impactos na vida social e na qualidade de vida, como explica o Dr. Alexandre.
No caso de Maria Júlia, a demora no diagnóstico resultou em manchas na pele, consequência direta da doença não tratada. Após o diagnóstico, o tratamento inicialmente incluiu corticoides e imunossupressores, mas os sintomas persistiram. "Os sintomas continuavam a oscilar, e então a especialista decidiu por uma terapia mais avançada com medicamentos imunobiológicos para um melhor controle da doença", relata.
Além de lidar com sua saúde, Maria Júlia teve que tomar decisões importantes sobre sua carreira. Inspirada pela sua própria experiência e pela dificuldade em encontrar um tratamento eficaz por meio da alimentação, ela decidiu seguir a carreira de nutricionista. Hoje, ela ajuda outras pessoas com doenças crônicas, ressaltando que, embora os diagnósticos possam ser semelhantes, as dietas devem ser personalizadas: "Não precisamos restringir alimentos de maneira geral, mas sim focar nos que realmente fazem mal para cada pessoa".
Maria Júlia agora utiliza sua experiência para trazer esperança a outros, mostrando que, apesar dos desafios, é possível encontrar um caminho para a saúde e bem-estar na adversidade.