Claudia Leitte quebra o silêncio após MP investigar racismo religioso ao modificar letras de música: 'É um assunto sério'
2024-12-30
Autor: João
Claudia Leitte se manifestou na madrugada desta segunda-feira (30), após o Ministério Público da Bahia (MP-BA) abrir um inquérito para investigar um potencial ato de racismo religioso cometido pela artista. A polêmica começou quando a cantora alterou o nome de um orixá em uma de suas músicas durante um show em Salvador.
A cantora declarou em uma coletiva de imprensa antes de sua apresentação no Festival Virada Salvador, que ocorreu na Arena O Canto da Cidade, que considera a questão extremamente séria. 'Vindo do meu lugar de privilégios, o racismo é um tema que deve ser abordado com seriedade, não de maneira superficial', afirmou ela.
A troca do nome do orixá ocorreu durante um show no Candyall Guetho Square, um espaço cultural em Salvador, onde a artista, em vez de mencionar 'Saudando a rainha Iemanjá', cantou 'Eu canto meu Rei Yeshua' (Jesus em hebraico). Essa mudança gerou polêmica nas redes sociais, uma vez que Claudia, desde sua conversão ao evangelismo em 2014, tem alterado as letras de suas músicas em diferentes apresentações.
O MP-BA recebeu denúncias a partir de queixas da Iyalorixá Jaciara Ribeiro e do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro). A investigação irá apurar a responsabilidade civil pela possível violação cultural e dos direitos das comunidades de religiões de matriz africana, podendo incluir eventual responsabilidade criminal.
A situação provocou reações significativas nas redes sociais, onde o Secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, e a professora e vencedora do Prêmio Jabuti, Bárbara Carine, criticaram a artista. Tourinho ressaltou que ao retirar nomes de orixás de suas músicas, Claudia está, na verdade, perpetuando um ato de racismo.
Bárbara Carine, conhecida por seu ativismo social, classificou a atitude da cantora como um 'terrorismo religioso' e destacou que os lucros obtidos pela demonização dessas culturas são revoltantes, especialmente quando partem de alguém que vive da axé music.
Por outro lado, Carlinhos Brown, um importante nome da música baiana e fundador da banda Timbalada, defendeu a artista. Ele mencionou que o Guetho é um espaço laico, onde todas as manifestações culturais são bem-vindas. 'Claudia é uma pessoa que não se identifica como racista, e eu descordo das generalizações', afirmou Brown.
Essa controvérsia não é apenas um eco nas redes sociais, mas reflete uma luta contínua por respeito e reconhecimento das tradições afro-brasileiras, revelando a complexidade das interações culturais na música popular brasileira. A discussão se intensifica no cenário atual, onde questões de representação e pertencimento estão cada vez mais em foco no debate público.