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Como a Ameaça de Trump Pode Desafiar o Futuro da Moeda dos BRICS e a Supremacia do Dólar

2024-12-03

Autor: Maria

No último sábado (30), Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos, agitou o cenário internacional com ameaças diretas ao grupo dos BRICS — formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Trump sugeriu que, se o bloco prosseguisse no plano de criar uma moeda comum para facilitar o comércio entre seus membros, enfrentaria uma taxação de 100% sobre exportações para os EUA. Essa proposta, uma ideia de Luiz Inácio Lula da Silva, visa reduzir a dependência do dólar e os custos operacionais nas transações entre os países do bloco.

Em suas redes sociais, Trump não hesitou em criticar a possível nova moeda, disparando que "não há chance de que os BRICS substituam o dólar americano no comércio internacional". Para o economista Hugo Garbe, a criação de uma moeda que rivalize com o dólar exige que os países demonstrem não apenas confiança internacional, mas também estabilidade econômica e políticas fiscais coordenadas. Para o Brasil, essa nova moeda poderia significar sérias mudanças na política econômica, especialmente considerando a dependência do país de commodities e suas instabilidades fiscais.

Entre os potenciais benefícios da criação da moeda dos BRICS, destacam-se a redução nas flutuações cambiais e a facilitação do comércio intra-bloco. Contudo, Garbe alerta que uma moeda comum pode limitar a autonomia da política monetária e deixar os países vulneráveis a um ambiente internacional ainda muito dolarizado.

“Embora a proposta de uma moeda comum tenha fundamentos teóricos sólidos, sua execução prática exige cautela. Para o Brasil, o êxito dependerá da capacidade de proteger os interesses nacionais e da habilidade do bloco em superar suas divergências”, destaca Garbe.

Desafios Políticos

Natali Hoff, especialista em relações internacionais, ressalta que a criação dessa moeda não seria um passo simples. A movimentação dos BRICS para desenvolver uma moeda própria contraria a hegemonia americana, o que pode acarretar tensões políticas significativas. Os BRICS percebem que a ordem econômica internacional vigente é moldada pelos interesses ocidentais, especialmente dos EUA e da Europa ocidental. Em vista disso, eles defendem reformas nas instituições internacionais que refletem melhor suas realidades e necessidades.

A reação dos EUA à proposta dos BRICS não deve ser subestimada. Para países já submetidos a sanções, como a Rússia e a própria China, que poderia se beneficiar ao reduzir a influência do dólar, é essencial ponderar cuidadosamente as consequências de um afastamento da moeda americana. Hoff acredita que Trump pode não conseguir taxar todos os membros do bloco, pois isso poderia resultar em perdas econômicas significativas para os EUA. A tensão entre o Brasil e os EUA dependerá, em grande parte, de como essa discussão sobre a nova moeda se desenrolar.

Na África do Sul, após as ameaças de Trump, o porta-voz do Ministério das Relações Internacionais, Chrispin Phiri, comentou que houve "relatos errôneos" sobre os planos do bloco. Segundo Phiri, a discussão entre os BRICS não se refere à criação de uma nova moeda, mas sim ao incentivo ao comércio entre os países utilizando suas próprias moedas nacionais. "Os líderes dos BRICS pediram uma reforma do sistema financeiro internacional para facilitar o comércio em moedas locais", afirmou.

O desenrolar desse conflito pode moldar o futuro do comércio global e as dinâmicas econômicas entre os países emergentes, levantando a questão sobre a viabilidade e os riscos da proposta de substituição do dólar pelos BRICS. O que se desenhará neste cenário pode alterar para sempre as relações comerciais e políticas internacionais.