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Como um homem que viveu antes de Jesus sacode as fronteiras da Europa

2024-12-15

Autor: João

Recentemente, a Macedônia do Norte se depara com um novo dilema político que está reanimando antigas tensões com a Grécia. No ano de 2024, o novo governo da Macedônia do Norte indicou que pode reconsiderar o acordo de mudança de nome feito anteriormente, criando alarde nas relações entre os dois países. A Grécia se manifestou contra essa possibilidade, demonstrando sua insatisfação através de ações diplomáticas, como o abandono do discurso inaugural por seu embaixador.

Esse impasse está enraizado em uma questão muito mais profunda do que apenas a disputa pelo nome. Envolve a construção da identidade nacional, que remete a figuras históricas, como Alexandre, o Grande. Morto há mais de 2.300 anos, o legado de Alexandre ainda pulsa fortemente e, surpreendentemente, continua a influenciar as fronteiras políticas da União Europeia.

A Macedônia do Norte é um pequeno país balcânico e, desde sua independência em 1991, vive um complexo jogo político e identitário. Anteriormente, foi parte do Reino da Macedônia, sob o governo de Filipe II, e mais tarde passou por diversos impérios, incluindo os romanos e os otomanos.

Em 1994, o crescente conflito entre Grécia e Macedônia do Norte resultou em um bloqueio comercial que só foi resolvido no ano seguinte, quando um nome provisório foi adotado: Ex-República Iugoslava da Macedônia. Essa situação se acalmou temporariamente, mas ressurgiu com força na próxima década, quando, em 2006, o aeroporto da capital, Skopje, foi batizado em honra a Alexandre, o Grande, provocando a ira da Grécia.

O acordo de 2018, que garantiu a mudança oficial do nome para Macedônia do Norte, trouxe promessas de estabilidade, mas a presença constante de Alexandre nas narrativas nacionais do país continua a exacerbar tensões. Em Skopje, estátuas majestosas e grandes estruturas homenageiam o conquistador, enquanto a Grécia argumenta que a Macedônia do Norte não possui vínculos legítimos com essa figura histórica. O país vizinho alega que a maior parte da antiga Macedônia está situada em seu território e se opõe à apropriação da identidade macedônia pelo novo estado.

Embora tenha explorado esses temas históricos e culturais para afirmar sua identidade, a Macedônia do Norte enfrenta divisões internas sobre seu relacionamento com o legado de Alexandre. Não é incomum que haja vozes dissidentes entre macedônios que questionam a celebrarão excessiva de um conquistador que nunca pisou em seu solo. A diretora do museu arqueológico nacional expressou preocupações sobre a forma como Alexandre é usado como um símbolo nacional, sugerindo que a Macedônia já possui um rico passado que deveria ser celebrado.

Entretanto, a Macedônia do Norte é apenas uma das diversas nações que disputam a narrativa em torno da figura de Alexandre. A questão é global: quem realmente possui o direito de reivindicar um personagem histórico que viveu há mais de dois milênios? A discórdia em torno de Alexandre ilustra o entrelaçamento de identidades nacionais na região dos Bálcãs, onde a história, frequentemente confusa, continua a moldar a política moderna.

Conforme as tensões se intensificam, podemos esperar que Alexandre continue a ser um ponto focal na luta pela identidade nacional não apenas na Macedônia do Norte, mas no cerne da política balcânica como um todo. Neste contexto, a pergunta sobre quem é o verdadeiro herdeiro do legado de Alexandre persiste, enquanto ele, mais de dois mil anos depois, ainda ditam a narrativa dos acontecimentos atuais.