Mundo

Como um homem que viveu antes de Jesus sacode as fronteiras da Europa

2024-12-15

Autor: Matheus

Em 2024, a Macedônia do Norte enfrenta uma nova turbulência política. Após formalizar um acordo com a Grécia, que envolveu a mudança de seu nome para Macedônia do Norte em 2019, a relação entre os dois países parece estar se deteriorando novamente. O novo governo da Macedônia do Norte declarou que revisitará os termos do acordo, levando a Grécia a manifestar insatisfação através de seu embaixador, que abandonou uma cerimônia oficial em protesto.

O motivo dessa crise não é apenas o seu nome, mas também a construção de identidades nacionais que se cruzam e conflitam. No centro dessa questão está a figura histórica de Alexandre, o Grande, que continua a ser um símbolo poderoso, evocando tanto orgulho quanto controvérsia para ambos os países.

Macedônia do Norte: O Pequeno Gigante dos Bálcãs

Localizada na Península dos Bálcãs, a Macedônia do Norte é um pequeno país de 25 mil quilômetros quadrados que faz parte da rica história da região. O território integrou o antigo Reino da Macedônia sob Filipe II, pai de Alexandre, no século IV a.C. Depois de vários domínios — romanos, bizantinos, búlgaros e otomanos — o controle turco só terminou em 1913. Com a independência declarada em 1991, a Macedônia do Norte buscou afirmar sua identidade, mas a Grécia não estava disposta a aceitar que um novo estado usasse o nome Macedônia, que para os gregos remete a uma rica herança cultural grega.

Na década de 1990, a tensão se intensificou com a imposição de um bloqueio comercial pela Grécia. A solução temporária foi um nome provisório: Ex-República Iugoslava da Macedônia. A questão culminou em tensões que se arrastaram até um acordo em 2018, permitindo a transição para Macedônia do Norte, mas não sem deixar cicatrizes profundas.

A Luta pela Identidade Nacional

A luta para definir a identidade nacional na Macedônia do Norte frequentemente incorpora a figura de Alexandre, o Grande. Em 2010, o aeroporto de Skopje foi renomeado em homenagem a ele, ação que irritou a Grécia, que desde então tem resistido a qualquer simbologia que veja como uma apropriação cultural.

A Macedônia do Norte viveu um boom de construção civil com inspiração grega, intensificando o nacionalismo por meio de estruturas como o arco do triunfo e estátuas de tamanho imponente, incluindo uma notável estátua equestre de Alexandre na praça central de Skopje. Contudo, muitos cidadãos expressam descontentamento em relação a essa glorificação de Alexandre, refletindo a complexidade de construir uma identidade nacional em meio a um passado compartilhado.

Ressonância Histórica e Cultural

As tensões entre a Macedônia do Norte e a Grécia não são apenas sobre um nome ou um personagem histórico, mas também sobre a luta por reconhecimento cultural e territorial. A ex-ministra da cultura da Macedônia do Norte, Bisera Kostadinov-Stojchevska, expressou sua resistência à apropriação de Alexandre como símbolo nacional, afirmando que a Macedônia possui uma rica história própria que deve ser celebrada sem recorrer a referências externas.

Da mesma forma, a discussão em torno da identidade contemporânea da Grécia, que muitas vezes se vê como herdeira direta da Grécia Antiga, é questionada por muitos. Historicamente, a área da Macedônia foi marcada por um mosaico de culturas e nacionalidades, que ainda hoje marca a política e a sociedade da região, refletindo um passado complexo repleto de invasões, guerras e acordos.

Agora, mais do que nunca, a má interpretação do legado histórico pode continuar a exacerbar as tensões na região dos Bálcãs, mostrando que, mesmo quase 2.400 anos após a morte de Alexandre, o Grande, seu impacto sobre as fronteiras e identidades modernas ainda é profundo e, muitas vezes, polêmico.