Coral do Índico se Torna Ameaça na Baía de Todos os Santos: 'Menos Peixes e Mais Preocupações'
2024-12-25
Autor: Julia
Recentemente, a Baía de Todos os Santos tem enfrentado um problema crescente: a invasão do octocoral Chromonephthea braziliensis, originário do Indo-Pacífico. Este coral, conhecido por não apresentar esqueleto calcário como os corais comuns, tem se proliferado rapidamente nas águas da região, resultando em uma drástica redução na presença de outras espécies marinhas. Os pescadores locais já relataram que suas capturas estão diminuindo, atribuindo essa mudança ao aumento da biomassa do octocoral.
O professor Igor Cruz, do Laboratório de Oceanografia Biológica da UFBA (Universidade Federal da Bahia), comentou sobre o impacto que essa espécie invasora pode causar. "O crescimento massivo do octocoral está reduzindo a diversidade biológica, e a nossa maior preocupação é que ele chegue aos recifes de corais", destacou Cruz. Esses recifes são ecossistemas extremamente ricos e vitais, e a perda deles afetaria negativamente a pesca e a biodiversidade local.
Estudos sugerem que o octocoral pode ter chegado ao Brasil através de plataformas de petróleo, que frequentemente transportam organismos marinhos em suas estruturas. A bioinvasão é um problema crônico que se agrava com a introdução contínua de espécies não nativas, e a Baía de Todos os Santos já registrou pelo menos 33 espécies exóticas, sendo sete delas consideradas invasoras.
A luta contra espécies invasoras envolve duas frentes principais: a prevenção e a intervenção. A prevenção é complexa, já que muitas dessas espécies entram pelo lastro de navios ou são trazidas por atividades humanas. A intervenção, por sua vez, deve ser rápida e eficiente para evitar que a espécie se estabeleça e se espalhe ainda mais.
O biólogo Cláudio Sampaio, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), explicou que a falta de competidores naturais no Brasil facilita a rápida expansão do Chromonephthea braziliensis. "Na ausência de predadores e competidores, essas colônias podem alcançar alturas impressionantes e dominar a fauna local", alertou Sampaio.
A remoção do coral invasor é um desafio por si só. Técnicas de manejo estão sendo testadas, incluindo a raspagem e a aplicação de soluções de água doce, vinagre e sal azedo. No entanto, a remoção direta pode liberar esporos que levam à ampliação da invasão. Pesquisadores da ONG ProMar, em parceria com a UFBA e a Ufal, estão buscando maneiras eficazes de controlar essa espécie indesejada.
Entretanto, existem obstáculos significativos para a implementação de ações rápidas: os altos custos das operações de campo, que são onerosas mesmo com a colaboração de voluntários, e a burocracia envolvendo a obtenção de licenças necessárias, o que pode atrasar qualquer tentativa de controle da invasão.
Os especialistas reforçam que a situação demanda atenção urgente, pois os impactos na pesca e na biodiversidade podem ser duradouros. Se não forem tomadas medidas cabíveis, a Baía de Todos os Santos pode se tornar um exemplo triste do que as espécies invasoras podem fazer com ecossistemas frágeis.