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'Coringa: Delírio a Dois' Falha em Surpreender e Decepciona o Público

2024-10-03

Com um título que promete adrenalina, a expectativa em torno de 'Coringa: Delírio a Dois' é alta, mas o que se vê é um filme que não se decide entre tantos gêneros e propostas. Analisando a obra, percebe-se que, além de desagradar os fãs casuais e os entusiastas de HQs, o filme joga com temas pesados de forma superficial e, muitas vezes, claudicante. O diretor Todd Phillips parece perder o controle do que realmente deseja transmitir, criando um emaranhado de ideias que não se solidificam.

No centro da narrativa, encontramos Arthur Fleck, agora no manicômio Arkham, aguardando julgamento. A representação de sua fragilidade emocional é palpável, mas a falta de direcionamento do enredo o torna apenas uma sombra do enigmático Coringa. O público é convidado a visualizar um Arthur passivo, que não parece se importar com os tumultos que suas ações provocaram. Esse contraste entre a figura mais forte que conhecemos e seu estado atual poderia ter sido explorado de forma mais profunda.

A relação entre Arthur e sua advogada, interpretada por Catherine Keener, estabelece um ponto de partida interessante. O objetivo dela é separar a identidade de Fleck da de Coringa, mas conforme a história avança, a intervenção de Lee Quinzel, vivida por Lady Gaga, gera mais confusão do que clareza. A química entre os personagens é inegável, mas a construção do romance se revela implausível quando confrontada com o comportamento de Fleck.

Phillips revela críticas sociais através da personagem de Gaga, mas a sua superficialidade como personagem a torna irrelevante. Esse retrato reconhece um público sedento por caos, mas falha em desenvolver nuances que tornariam a trama mais rica. A performance de Gaga, embora interessante, não evita que a personagem se torne uma caricatura sem profundidade.

Os números musicais, embora bem produzidos e estilizados, não conseguem salvar a narrativa. Ao se inspirar em 'Chicago', a proposta parece mais um recurso visual do que uma verdadeira expressão da mente conturbada de Fleck. Além disso, a ausência de uma exploração mais intensa do universo dos quadrinhos enfraquece o que poderia ser uma proposta corajosa, levando o filme a uma zona de conforto pouco interessante.

Se um diretor com a visão de James Gray ou S. Craig Zeller estivesse no comando, provavelmente teríamos um estudo emocional mais impactante e menos disperso. 'Coringa: Delírio a Dois' não consegue se manter firme, especialmente quando seu clímax parece uma tentativa forçada de retorno ao impacto que 'Coringa' anterior conseguiu.

Joaquin Phoenix, que talvez tenha perdido uma chance de brilhar no Oscar ao optar por este projeto, entrega uma atuação intensa. Sua capacidade de expressar o desespero e a desintegração de Arthur Fleck brilha, mesmo que o roteiro não acompanhe esse esforço. O filme se afasta da possibilidade de redenção, entregando uma experiência que pode ser descrita como uma viagem sem destino.

A estreia de 'Coringa: Delírio a Dois' suscita um questionamento importante sobre o futuro de adaptações de quadrinhos: será que os cineastas estão prontos para explorar a complexidade desses personagens de forma que realmente ressoe com o público? Enquanto isso, os espectadores podem ficar se perguntando se todas as suas expectativas foram, de fato, estilhaçadas.