Crise Climática: O Impacto da COP29 e o Futuro do Financiamento
2024-11-24
Autor: Matheus
A COP29 começou em um cenário desafiador: realizada em um país produtor de petróleo, a conferência foi marcada por repressões a protestos e pela influência significativa de lobistas do setor de petróleo e gás, que formaram a "quarta maior delegação" da conferência. Enquanto as petroleiras alegam falta de recursos para investir na transição energética, a situação nos faz questionar a alocação de verbas até mesmo para coffee breaks.
O desafio central deste ano foi a questão do financiamento da crise climática. Países em desenvolvimento necessitam urgentemente de pelo menos US$ 1 trilhão (aproximadamente R$ 5,79 trilhões) anualmente para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Este montante é vital para compensar perdas já ocasionadas e para investir em soluções de adaptação, como energia solar, sistemas de irrigação e infraestrutura para proteção contra inundações.
No entanto, essa quantia não surge do nada. A proposta em discussão, chamada Nova Meta Global Quantificada de Financiamento Climático (NCQG), pede que os países que historicamente mais contribuíram para as emissões de gases do efeito estufa assumam a responsabilidade pela dívida climática. A lógica é simples: quem mais poluiu, deve arcar com os custos de mitigação e adaptação. Contudo, a prática esbarra nas regras do capitalismo, onde os lucros são privados, mas as perdas são coletivas.
Mobilizar trilhões de dólares entre nações nunca foi uma tarefa simples, especialmente em contextos de crise. A história nos ensina que, geralmente, essas mobilizações ocorrem em períodos de guerra. Isso explica a dificuldade em avançar nas discussões desde as edições anteriores da COP.
Um momento de esperança surgiu quando o tema climático ganhou destaque no G20 no Brasil e se esperava que uma solução fosse definida na COP 29. Porém, na última sexta-feira (22), último dia oficial da conferência, a versão inicial do texto final foi decepcionante: fraca e ambígua, falava em bilhões, quando os trilhões eram necessários. As autoridades pareciam vacilar nas responsabilidades dos países, fazendo com que o que se esperava ser um progresso se transformasse em um desejo apenas.
Após intenso criticismo de representantes da sociedade civil e líderes de países em desenvolvimento, as negociações se estenderam até a noite de sábado, horário do Brasil (madrugada de domingo em Baku), com a conferência perdendo participantes ao longo do tempo. Historicamente, as reuniões se prolongam; a COP25, em Madri, durou quase 44 horas, e esta superou as 31 horas. As críticas à liderança do Azerbaijão também foram evidentes, com acusações de que algumas nações travaram o processo negocial. No entanto, a pressão popular teve algum efeito: no final, a nova meta estabeleceu um mínimo de US$ 300 bilhões por ano até 2035, com foco nos países desenvolvidos.
Esse valor deverá ser revisto em 2030, e uma equipe seguirá trabalhando nas discussões rumo à COP30, que será realizada em solo brasileiro. Em 2024, em Belém, podemos esperar não apenas questões complicadas, mas também uma série de protestos contundentes, resultado das repressões em edições anteriores.
Historicamente, o Brasil se destacou em negociações internacionais, como na construção da Agenda 2030. Com a Amazônia como um importante referencial, o país possui uma oportunidade única de liderar diálogos sobre justiça climática e garantir um financiamento mais robusto. A capacidade brasileira de encontrar soluções criativas em situações complexas é um trunfo. Talvez essa seja a chance de transformar toda a frustração em um plano de ação viável e eficaz para enfrentar a crise climática. Afinal, precisamos agir, já que o futuro do nosso planeta está em jogo!