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Crítica: 'Nosferatu' é uma Obra-Prima do Terror

2025-01-01

Autor: Gabriel

Desde seus nove anos, Robert Eggers sonha em recriar "Nosferatu", e agora, em seu quarto longa-metragem, ele finalmente realiza essa ambição. O filme, que combina acessibilidade com profundidade temática, coloca Eggers em um patamar elevado na história do cinema de terror.

Enquanto as versões de 1922 e 1979 abordaram o vampiro de maneiras distintas - a primeira introduzindo um jogo de sombras revolucionário e a segunda carregando uma melancolia poética - a nova adaptação redefine o personagem, transformando-o em um símbolo da maldade intrínseca. Eggers entrega, assim, uma obra-prima que remete ao expressionismo alemão, elevando o mito de Nosferatu a um novo nível.

A trama se desenrola a partir das indagações de Ellen Hutter, interpretada por Lily-Rose Depp, e do professor caçador de vampiros vivido por Willem Dafoe. Juntos, eles exploram questões profundas sobre a natureza do mal: ele é algo exterior ou surge do interior da vítima?

A resposta é insinuada de forma poderosa logo na sequência inicial, onde Eggers ecoa a estética do filme mudo original, utilizando a intensa expressividade de Ellen para transmitir a angústia de sua situação. Este elemento se repete nas expressões atormentadas de Thomas, vivido por Nicholas Hoult, e na teatralidade de Knock, interpretado por Simon McBurney.

A referência ao clássico de 1922 não se limita à narrativa, mas também ao visual. Max Schreck, o vampiro original, afastou-se da sensualidade do Drácula de Bram Stoker, e sua figura perturbadora se tornou uma lenda no gênero. Hoje, Bill Skarsgård traz uma nova face para o conde Orlock, que não apenas referencia a sua origem histórica como também apresenta um lado grotesco e visceral, que desafia normas estabelecidas na representação dos vampiros.

Ninguém antes havia apresentado um vampiro tão exposto, quase como um cadáver em decomposição. A atuação de Skarsgård é marcada por uma voz profunda e ressonante, reminiscentes de deidades antigas, enquanto ele navega por temas de putrefação e doença que permeiam a narrativa.

Eggers foi além da estética e dos sustos convencionais, criando um ambiente onírico e repleto de nuances que lembram a atmosfera de suas obras anteriores, como "A Bruxa". A subversão de diálogos em línguas modernas em uma Alemanha de 1838 é uma escolha polêmica, mas que, no fundo, não compromete a visão artística geral.

Os fãs de terror encontrarão elementos para delirar, como o intrigante personagem de Dafoe, que invoca demônios e anjos, aprofundando as camadas obscuras da história. O nome de seu personagem, Albin, homenageia Albin Grau, o produtor do clássico de 1922, demonstrando um respeito e uma conexão com a fonte original.

Contudo, a narrativa pode decepcionar aqueles que buscam sustos simples. "Nosferatu" se desenrola em um ritmo contemplativo, apresentando sub-enredos que podem parecer desnecessários, mas que acabam por enriquecer a experiência. A relação complexa entre Ellen e Nosferatu reflete questões atemporais sobre o papel da mulher na sociedade, proporcionando uma reflexão poderosa que ecoa os tempos atuais.

No entanto, uma presença poderia ter intensificado o impacto: Anya Taylor-Joy, para quem o papel foi originalmente imaginado. Apesar disso, Lily-Rose Depp consegue entregar uma performance convincente, trazendo sua própria interpretação ao icônico papel.

"Nosferatu" é um retorno audacioso ao cinema de terror, capaz de tanto encantar os puristas quanto os novos fãs do gênero, oferecendo uma visão fresca sobre uma história clássica que ressoa profundamente nas preocupações modernas. Prepare-se para uma jornada sombria e fascinante que vai além do terror convencional!