Saúde

"Daqui a pouco, todo mundo vai ser autista ou ter déficit de atenção", alerta psiquiatra sobre diagnósticos em excesso

2025-04-23

Autor: Ana

A psiquiatra Juliana Belo Diniz emitiu um alerta preocupante: a crescente cultura da saúde mental, embora ajude a desmistificar o sofrimento, também alimenta a patologização e o excesso de diagnósticos, como depressão e TDAH.

Em seu recém-lançado livro "O que os psiquiatras não te contam", Juliana, que possui doutorado pela Universidade de São Paulo e experiência na Universidade Harvard, revela como a simplificação do sofrimento humano em apenas diagnósticos e medicamentos vem se tornando comum.

Desafios da Adolescência na Era Digital

Em uma entrevista reveladora, Juliana discute o tratamento dos jovens em consultórios psiquiátricos. Para ela, não podemos simplesmente encaminhar todos os adolescentes para terapia, já que as interações sociais, as redes sociais e a pressão do sistema educacional desempenham um papel crucial em sua saúde mental.

"A adolescência é sempre desafiadora, mas agora, além da impulsividade típica, os jovens lidam com influências externas que antes não existiam, como mídias sociais cheia de conteúdos que podem levar a autolesões", comenta a psiquiatra.

O Aumento dos Diagnósticos de TDAH

Juliana observa um aumento alarmante na prescrição de medicamentos para adolescentes com diagnóstico de TDAH. "Esses jovens estão lutando para se concentrar em um mundo repleto de distrações digitais, o que complica ainda mais o cenário", afirma.

Ela ressalta que não é apenas questão de medicar; é preciso entender a origem dessas dificuldades, que muitas vezes estão ligadas ao ambiente hiperestimulante em que cresceram.

Impactos das Redes Sociais nas Relações Humanas

A psiquiatra ainda aponta que essa conexão constante está prejudicando as relações pessoais. "Estamos formando indivíduos que não conseguem mais lidar com a complexidade dos relacionamentos. Tudo se torna um gatilho, uma intolerância constante", explica.

A Patologização do Sofrimento

A febre dos transtornos mentais discutidos nas redes sociais levanta um debate: isso ajuda ou atrapalha a compreensão da psiquiatria? Juliana argumenta que a percepção equivocada de que a psiquiatria pode resolver todos os problemas é perigosa.

Ela destaca a diferença entre os papéis de psiquiatras, psicólogos e neurologistas, enfatizando que a psiquiatria deve ser um campo da medicina que busca compreender as raízes do sofrimento emocional.

A Necessidade de um Debate Social

Juliana acredita que, apesar do aumento de diagnósticos, ainda existe uma distribuição desigual de cuidados. Muitas pessoas com condições graves de saúde mental não têm acesso a tratamento apropriado, levando a uma falta de apoio.

Ela conclui: "Se não cuidarmos da diferença na sociedade, não conseguiremos lidar adequadamente com os desafios que cada um enfrenta."

O Futuro dos Tratamentos Psiquiátricos

Com a revolução nos medicamentos, especialmente em relação aos psicodélicos, Juliana fica cautelosa. "Essas substâncias precisam ser estudadas com rigor, e não podem ser vistas como a solução mágica para os problemas", alerta.

Ela defende que o verdadeiro tratamento é aquele que vai além dos medicamentos e considera as complexidades sociais e emocionais que cercam cada indivíduo.