O Brasil enfrenta um momento delicado no combate à dengue, com mais de 6,5 milhões de casos prováveis já registrados, conforme o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde. Embora os sintomas atuais indiquem uma estabilização nos últimos dias, especialistas são unânimes em alertar: estamos à beira de um aumento significativo nas infecções nos meses que se seguem.

A dengue é uma doença sazonal, surgindo em períodos específicos, principalmente entre fevereiro e abril, quando ocorrem as chuvas e o calor se intensifica, como explica o infectologista Renato Grinbaum, gerente de Práticas Médicas do Hospital São Luiz e professor na Universidade de São Caetano do Sul. Este ano, março foi especialmente alarmante, pois os casos atingiram o ápice e registraram uma epidemia sem precedentes.

Os dados apontam um crescimento no número de casos desde outubro, onde 45.635 novos casos foram notificados, representando um aumento em relação aos 38.836 de setembro. Esse crescimento está ligado a temperaturas elevadas e ao início da temporada de chuvas. Em outubro, intensas precipitações e até um ciclone extratropical impactaram algumas regiões do Sudeste e Centro-Oeste, favorecendo o aumento da incidência: "Quando temos essas condições climáticas, a dengue tende a proliferar", afirma Grinbaum.

O infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Unesp, observa que a comparação entre as semanas epidemiológicas de 2024 e anos anteriores revela um cenário preocupante, com números já acima dos registros de 2023, que contabilizavam 27.909 casos prováveis no mesmo mês.

"Já estamos há semanas alertando para o aumento inevitável", avisa Barbosa, enfatizando que durante as análises anuais, é evidente a tendência de explosão de casos. A previsão é clara e preocupante: a situação pode se agravar, mas ainda não é possível determinar se será pior que o ano anterior, segundo Grinbaum, devido à falta de dados suficientes.

Diante desse quadro, a prevenção é a chave. Em outubro, o Ministério da Saúde lançou uma campanha nacional com o slogan "Tem 10 minutinhos? A hora de prevenir é agora". Essa ação visa conscientizar a população da importância de eliminar os focos do mosquito Aedes aegypti, transmissores da doença.

A boa notícia é que o Brasil conta com a vacina Qdenga, desenvolvida pela farmacêutica Takeda. No entanto, o Ministério da Saúde indicou que o foco para 2025 será o controle da proliferação do mosquito, e não a vacinação em massa. "A redução dos casos depende muito mais de medidas de saneamento e prevenção do que da vacinação", enfatiza Grinbaum.

A campanha de vacinação já está em vigor desde abril, com foco em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. A vacina requer duas doses, com um intervalo de 90 dias, disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e também em clínicas particulares ao custo médio de R$ 450 por dose.

Portanto, mantenha-se informado e atente-se às recomendações das autoridades. O alerta é claro: o controle da dengue precisa ser uma prioridade nacional, e cada um de nós pode fazer a diferença na luta contra essa doença que, se não contida, pode ter consequências devastadoras. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje: previna-se!