Desafios na Relação Brasil-Argentina Após G20: Acordos de Gás e Tensões Climáticas
2024-11-23
Autor: Carolina
Os eventos recentes indicam que a relação entre Brasil e Argentina ainda é marcada por tensões, apesar de alguns avanços superficiais. Na última semana, os dois países firmaram um acordo para a importação de gás argentino, originário dos campos de Vaca Muerta, que promete trazer um respiro às economias em tempos de crise energética. O encontro dos líderes na Cúpula do G20 trouxe à tona o compromisso do presidente argentino Javier Milei com a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, proposta pelo governo Lula.
No entanto, especialistas apontam que a cúpula não conseguiu apaziguar as diferenças profundas entre os dois países. Rodrigo Reis, diretor executivo do Instituto Global Attitude, alerta para as dificuldades que o Brasil enfrentará ao negociar com Milei, cuja política reflete características do ‘trumpismo’. Essa postura, segundo Reis, receosamente pode levar à Argentina a se distanciar de instituições multilaterais, o que é alarmante no contexto das crescentes questões climáticas.
Durante o encontro do G20, Lula fez um apelo à urgência de ações em relação às mudanças climáticas, destacando que a COP30, programada para o próximo ano no Brasil, é uma "última chance" para evitar uma catástrofe climática. Porém, o governo Milei já havia repudiado a COP29, demonstrando uma clara falta de interesse nas discussões climáticas globais.
Milei, que já se manifestou contra a Agenda 2030 da ONU, vê a organização como um agente que fere a soberania da Argentina, impondo uma agenda que classifica como socialista. Isto coloca o Brasil em uma posição antagônica, já que o governo brasileiro tem se empenhado fortemente em promover e cumprir os compromissos climáticos em fóruns internacionais.
Além disso, o clima de desconforto foi palpável durante o primeiro encontro entre Lula e Milei no G20. A recepção tensa, marcada por um breve e formal aperto de mão e expressões fechadas, sinaliza que as divergências políticas e econômicas persistem.
A delegação argentina chegou atrasada ao evento, intensificando as especulações sobre a disposição de Milei em colaborar com demais líderes. Mesmo assim, a Argentina engajou-se a lutar contra a pobreza, alinhando-se a um consenso maior sobre transição energética, embora com ressalvas, defendendo o capitalismo de livre mercado como a solução para os problemas sociais.
Especialistas indicam que a abordagem de Milei pode influenciar as políticas em toda a América Latina. Gabriela Sabino, especialista em relações governamentais, argumenta que sua postura pode levar a uma política mais conservadora e nacionalista na região. A possibilidade de aproximação entre Argentina e Estados Unidos, especialmente sob a sombra de acordos bilaterais, pode causar fricções com o Brasil, especialmente se deixar de lado os interesses regionais em prol de vantagens econômicas mais restritas.
Até o acordo de gás associado a Vaca Muerta, que foi celebrado como um avanço pragmático, não parece ter suavizado os ânimos. Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia do Brasil, reconheceu a importância do acordo, mas observou a necessidade de colocar demandas sociais e desenvolvimento econômico acima das disputas políticas. A tensão entre pragmatismo econômico e realidades políticas dominará a agenda futura entre os dois países, sinalizando um caminho desafiador para as relações bilaterais.