A professora Maria Lucia Werneck Vianna, uma das maiores especialistas em seguridade social do Brasil, faleceu, deixando um legado inestimável na defesa da democracia e da justiça social. Formada em Ciência Política pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, Maria Lucia dedicou sua vida ao estudo e à promoção de sistemas que garantissem a proteção social e econômica dos cidadãos.

Durante sua trajetória, Maria Lucia se destacou não apenas como acadêmica, mas também como ativista política. Militante do PCB, ela foi presa política durante a ditadura militar, enfrentando a opressão com coragem. Em reconhecimento a sua luta, Jandira Feghali, deputada federal pelo PCdoB-RJ, destacou em suas redes sociais: “Maria Lucia sempre será uma referência do pensamento crítico brasileiro. Sua falta será sentida, mas seu legado perdurará.”

A ministra de Gestão e Orçamento, Esther Dweck, também lamentou a perda da amiga e colega de trabalho: “Ela sempre defendeu um Estado inclusivo. Os conceitos que Maria Lucia desenvolveu continuam a inspirar as políticas públicas que buscamos implementar.”

Reconhecida por sua intelligentia e atuação, Maria Lucia foi uma voz ativa contra a mercantilização da saúde, previdência e assistência social, enfatizando a importância dos sistemas de bem-estar social em momentos de crise. Em 2019, em entrevista ao GLOBO, ela reiterou: “Os sistemas criados em períodos de recessão são essenciais para o amparo da população. A saúde pública no Reino Unido e as políticas de bem-estar na Alemanha são exemplos que comprovam isso.”

Mesmo frente a reformas que potencialmente ameaçavam a seguridade social no Brasil, Maria Lucia foi categórica ao afirmar que nosso sistema previdenciário é um dos maiores programas de distribuição de renda do mundo, reconhecendo a importância da inclusão de trabalhadores rurais e pessoas com dificuldades de contribuição.

Além de sua carreira acadêmica, onde foi professora de Ciência Política no Instituto de Economia da UFRJ desde 1986, Maria Lucia orientou várias teses e ajudou na criação de laboratórios focados em políticas de saúde e seguridade. Seu trabalho influenciou gerações de estudantes e profissionais no campo da política pública.

Ela também foi uma das intelectuais que contribuíram para a formulação do texto da Constituição de 1988, um marco na defesa dos direitos sociais no Brasil. Seu comprometimento com a educação pública e o ensino foi reconhecido por colegas e alunos, que sempre admiraram sua liderança e visão crítica.

Maria Lucia é autora de importantes obras que abordam a administração da seguridade social em um contexto econômico desafiador. Seu livro "A Americanização (perversa) da seguridade social no Brasil" é um exemplo claro de como suas análises crítica e profundas moldaram o entendimento contemporâneo sobre políticas sociais e seus impactos.

Em suas reflexões, destacava a fragilidade da noção de 'esfera pública' no Brasil, que, segundo ela, é frequentemente vista como uma área esquecida e vulnerável ao individualismo predatório. Essa visão perspicaz sobre as dinâmicas sociais permanece mais relevante do que nunca.

Maria Lucia Werneck Vianna deixa um vazio enorme, mas também um forte legado que certamente continuará a inspirar novas gerações na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.