Desisto de postar no X para estar do lado certo da história
2024-11-17
Autor: Ana
Após uma longa reflexão, decidi que é hora de deixar a plataforma X. Durante meses, acreditei que continuar presente na rede social não seria a solução para os problemas que enfrentamos. Achei que precisávamos ocupar esses espaços defendendo os direitos humanos e valores humanitários, mas percebi que isso é uma ilusão, em meio à manipulação dos algoritmos. Em vez disso, nossa presença ali só legitima aqueles que distorcem a ideia de liberdade de expressão para disseminar mentiras e exercer poder.
Durante as eleições nos Estados Unidos, testemunhei uma realidade alarmante, onde muitos cidadãos estocaram armas e alimentos por medo de uma guerra civil. Este pânico se origina da incapacidade de uma parcela de apoiadores de Donald Trump em aceitar o resultado das urnas, uma resistência que foi alimentada por mentiras amplificadas especialmente na plataforma de Elon Musk.
Na proximidade das eleições, as contas ligadas à extrema direita permitiram que mentiras alcançassem impressionantes 2 bilhões de visualizações, contribuindo para um clima de desespero e divisão social.
A história nos ensina que os meios de comunicação têm um impacto crucial em eventos trágicos. Um exemplo é o genocídio em Ruanda, onde a frequência de estações de rádio que promoviam o ódio coincide com um aumento na violência. Onde o sinal era forte, o genocídio foi devastador, enquanto áreas com sinal fraco conseguiram escapar da brutalidade.
Importante lembrar que o genocídio não se inicia com a violência física, mas, sim, com a propagação do ódio.
Em 2021, trabalhadores do Twitter reconheceram sua influência ao se manifestarem após o ataque ao Capitólio, ocorrido em 6 de janeiro. Uma carta, assinada por 300 funcionários, clamava por uma mudança na postura da plataforma, que se tornara um veículo para a disseminação de discurso de ódio e violência. "Apesar de nossos esforços para fomentar o debate público, acabamos por alimentar os eventos trágicos de 6 de janeiro", afirmaram os colaboradores.
Esses profissionais pediam a suspensão completa da conta de Trump, com alguns planejando até entrar em greve caso a direção se recusasse a agir. Inicialmente, Trump foi suspenso por 12 horas; após seu retorno, ele o chamou de "grandes patriotas", uma mensagem que, na visão da empresa, alimentava novos atos de violência, especialmente com a posse de Joe Biden se aproximando.
Finalmente, naquele dia decisivo, a direção do Twitter decidiu expulsar Trump da plataforma, uma decisão que ninguém poderia prever, considerando que meses depois, Elon Musk compraria o Twitter por US$ 44 bilhões e reabilitaria contas de hate e extremismo, incluindo a do ex-presidente. Essa mudança não só restaurou vozes do ódio, como também reafirmou a capacidade desses discursos de influenciar a sociedade.