Dois anos após o rombo bilionário das Americanas: impunidade ou falta de ação?
2025-01-11
Autor: Ana
Após dois anos da descoberta de um rombo bilionário que abalou a Lojas Americanas, a pergunta que persiste é: por que ninguém foi efetivamente punido? Recentemente, algumas figuras influentes da empresa foram indiciadas, incluindo Miguel Gutierrez, ex-presidente da Americanas, e Anna Saicali, ex-presidente da B2W, que fazia parte do braço de comércio eletrônico da companhia. Além deles, outros ex-vice-presidentes e diretores também respondem a processos na Justiça, mas as penas muitas vezes não refletem a gravidade do crime.
Anna Christina Ramos Saicali, mesmo após se mudar para Portugal, teve que retornar ao Brasil e está proibida de deixar o país, enfrentando restrições severas em sua liberdade de locomoção. Por outro lado, Miguel Gutierrez, que chegou a ser preso em um capítulo que envolveu sua fuga para a Espanha, agora aguarda o desenrolar do processo em liberdade condicional, após conseguir habeas corpus.
No contexto atual, os acionistas da Americanas aprovaram ações civis contra os ex-diretores, que são acusados de terem mantido uma narrativa falsa sobre a saúde financeira da empresa por mais de uma década. Segundo analistas, essa falta de punição pode ser um perigoso precedente para futuras fraudes em corporações brasileiras, criando uma cultura de impunidade que poderá facilitar novos escândalos, como já ocorreu em outros casos como o do IRB Brasil Resseguros.
No que tange à situação financeira da Americanas, a empresa atualmente opera com menos lojas do que antes; passando de 1,8 mil para apenas 1,6 mil, e tem focado suas vendas em itens de menor valor, como produtos de limpeza e bebidas. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal estão investigando as práticas de manipulação de mercado e vazamento de informações. O sigilo sobre o andamento das investigações impõe um mistério que deixa a população apreensiva.
Após o processo de recuperação judicial, iniciado em 2023, a empresa conseguiu renegociar sua dívida de R$ 42 bilhões, reduzindo-a para R$ 1,7 bilhão em um planejamento que envolve o perdão de até 90% das dívidas por parte dos fornecedores. Apesar de ter causado um prejuízo de R$ 2,3 bilhões em 2023, no terceiro trimestre de 2024, a Americanas surpreendeu ao declarar um lucro de R$ 10,279 bilhões, embora esse valor seja resultado das negociações realizadas. Sem esses descontos, a empresa informou que sua receita líquida não apresentaria lucro ou prejuízo.
Para os acionistas minoritários, as ações da Americanas passaram a valer apenas 1% do seu valor original desde a descoberta das fraudes, resultando em uma ação de arbitragem que busca indenização de R$ 32 bilhões. O clima na Bolsa de Valores também é tenso, com as ações da empresa deixando o Ibovespa, mas ainda permanecendo como um ativo para especuladores, com variações de até 180% em um único pregão.
Além disso, a Americanas falhou em atender às exigências da B3, o que trouxe consequências severas para sua governança. O Instituto Empresa argumenta que a companhia deve ser expulsa do mercado devido a repetidas violações, embora tenha conseguido suspender sanções provisoriamente enquanto aguarda uma decisão final da B3. O futuro da Americanas e a responsabilidade de seus executivos permanecem sem uma resolução clara, levantando questões sobre a integridade de todo o sistema corporativo no Brasil.
Neste cenário, é vital que a sociedade civil e as instâncias regulatórias reafirmem suas posturas em busca de justiça e transparência, garantindo que escândalos como o da Americanas não voltem a se repetir.