Dólar a R$ 6 e Selic a um passo de nova alta: O que esperar do mercado após o polêmico pacote fiscal?
2024-11-29
Autor: João
O governo brasileiro apresentou nesta quinta-feira (28) um pacote fiscal considerado "frágil" pelo mercado, resultando em um aumento da pressão sobre as decisões futuras do Banco Central em relação à Selic, a taxa básica de juros. Os juros futuros dispararam, registrando picos próximos a 14%, índices que não eram vistos desde os tempos do governo Dilma Rousseff.
Walter Maciel, CEO da gestora AZ Quest, prevê uma "elevação drástica" dos juros devido aos recentes anúncios do governo. "Com o que o mercado está observando, o Banco Central precisaria realizar duas altas de 100 pontos-base na Selic", disse ao InfoMoney. Para ele, essa situação reflete a perda de credibilidade do governo em relação ao controle dos gastos públicos, especialmente após o controverso pacote de medidas que se propõe a ajustar as contas do país.
Em um cenário de desconfiança, o fluxo de investimentos internacionais através do carry trade, que depende da diferença entre as taxas de juros do Brasil e dos Estados Unidos, poderá enfraquecer. O economista Wilmar G. dos Santos complementa que as taxas nos EUA estão em queda, o que torna cada vez mais difícil manter atrativo o investimento no Brasil, precarizado pela dúvida sobre a saúde fiscal brasileira.
O impacto da desvalorização do real
Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, aponta que a desvalorização acentuada do real, notada desde quarta-feira (27), é um sinal claro de que a política monetária brasileira terá que ser revista com urgência.
Apesar das apostas em um aumento de 0,75 a 1 ponto percentual na Selic para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 11 de dezembro, a economista acredita que é prematuro falar em um aperto imediato. Contudo, o pessimismo gerado pelo pacote fiscal pode acelerar essa mudança de rumo.
Com a cotação do dólar fechando a R$ 5,98, o mercado não parece inclinado a melhorar tão cedo. Para que os investimentos voltem a fluir, seriam necessárias notícias favoráveis que indiquem um controle mais eficaz dos gastos públicos ou um melhora significativa no cenário econômico internacional.
A nova realidade do dólar
Para Igor Macedo de Lucena, a marca de R$ 6 deve ser considerada um novo piso para o dólar. "Sem um plano crível que garanta controle e estabilização dos gastos, é provável que R$ 6 se torne o novo normal", destacou. Ele também alertou que ações do Banco Central sozinhas não seriam suficientes, visto que a política de desoneração de impostos nos Estados Unidos tende a atrair mais investimentos para lá, especialmente considerando o retorno de Donald Trump ao poder.
Além disso, Lucena menciona a perspectiva de uma "dominância fiscal", onde a incapacidade do governo em resolver a questão fiscal pode inviabilizar o controle da inflação, mesmo com uma Selic potencialmente mais baixa no futuro.
Déficit e Dívida Pública em ascensão
Tatiana observa que as reformas propostas não são suficientes para estabilizar a dívida pública, que, segundo suas estimativas, pode ultrapassar 100% do PIB até 2030, se as taxas de juros se mantiverem elevadas. No cenário otimista, com a Selic abaixo de 10% em 2027, a dívida ainda assim aumentaria para 93%. "O ajuste proposto é muito limitado se considerarmos o enorme desequilíbrio entre as receitas e despesas do Brasil", conclui.
Outro aspecto a ser considerado é que as medidas anunciadas dificultam ainda mais a sustentabilidade fiscal a partir de 2027, uma vez que os efeitos positivos só seriam percebidos em 2025 e 2026, forçando novos cortes nos próximos anos. A dependência de apoio parlamentar para a implementação das medidas já gera um ceticismo considerável entre investidores.
Embora o pacote tenha seus pontos positivos, como o controle de supersalários e ajustes na previdência militar, Tatiana ainda acredita que ele não aborda adequadamente a necessidade de controlar o impulso fiscal e evitar pressões inflacionárias, o que poderá resultar na necessidade de juros ainda mais altos que os atuais, colocando o futuro da economia brasileira em iminente risco.