Ciência

Editoras Científicas: Uma Indústria de Trabalho Servil e Saque ao Erário!

2025-03-23

Autor: Pedro

No intrigante mundo da publicação acadêmica, o caráter não corre em famílias, mas às vezes parece tentar nos convencer do contrário. Uma figura polêmica nesse cenário é Ghislaine Maxwell, ex-associada de Jeffrey Epstein e filha do barão do mercado editorial inglês, Robert Maxwell, que faleceu sob circunstâncias misteriosas em seu iate em 1991, dias antes da revelação de que havia desviado o fundo de pensão de seus funcionários, deixando-os em apuros.

Uma de suas iniciativas mais controversas foi a criação de uma ilusão de prestígio em torno das publicações científicas, persuadindo acadêmicos ávidos a acreditar que ocupavam posições de destaque em periódicos que alterariam a percepção mundial sobre ciência. Com a aceitação dessa ideia, o mercado moderno de publicações acadêmicas emergiu no início da década de 50 — um fenômeno que Yanis Varoufakis, ao teorizar sobre tecnofeudalismo, parece não ter reconhecido.

Robert Maxwell fundou a Pergamon Press, com um modelo de negócios audacioso: recrutando acadêmicos para trabalharem gratuitamente e depois revendendo suas produções por preços exorbitantes. Embora muitos duvidassem do sucesso da empreitada, ele avançou, criando uma infinidade de periódicos, tornando-se um ícone ao inventar o "International Journal of (qualquer coisa)".

Nesse sistema, que mais tarde seria vendido para a Elsevier e imitado por outros gigantes da indústria, os editores são recompensados com visibilidade, enquanto os revisores atuam como servos, labutando em prol da empresa sem receber qualquer compensação financeira ou reconhecimento social. Maxwell, pela sua genialidade, compreendeu a complexa relação entre orgulho intelectual e a manipulação da ignorância.

Ademais, a sorte também lhe sorriu. Em 1964, Eugene Garfield desenvolveu um índice proprietário que mede o impacto de publicações científicas, posteriormente vendido à Thomson Reuters, consolidando sua fama como um sinônimo de relevância acadêmica. O resultado? Autores, impulsionados pela pressão do cenário acadêmico e pelo Estado, estão dispostos a desembolsar quantias que podem chegar a R$ 60 mil para publicar em revistas renomadas como Cell ou Nature, além de taxas adicionais exorbitantes para acesso ao conteúdo.

Esse quadro gerou uma indústria impressionante, com margens de lucro superiores a 40%, que, em 2024, gerou um lucro três vezes maior do que a soma das três maiores plataformas de streaming de vídeo. Com isso, surgiram alternativas, sendo a SciELO (Fapesp-Bireme, 1996) uma das mais proeminentes. Essa plataforma oferece periódicos sérios com acesso gratuito e distribuição global em inglês, mas ainda é subutilizada por pesquisadores sêniores, especialmente em áreas como neurociências, que sentem a pressão de publicar nas revistas do oligopólio criado por Maxwell para garantir a visibilidade internacional.

Mudanças nessa dinâmica ainda estão longe de ocorrer, mas uma nova esperança surge: pesquisadores americanos estão processando as seis maiores editoras por práticas predatórias e monopolistas, como não remunerar revisores, proibir que autores submetam artigos a mais de uma revista ao mesmo tempo, ou restrições sobre a discussão de suas próprias pesquisas após a submissão. Essa batalha pode ser o primeiro passo para uma transformação significativa no cenário editorial, que há anos representa uma autêntica exploração dos talentos e esforços científicos!