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Editorial do Globo Choca ao Classificar Proposta de Redução da Jornada de Trabalho como ‘Engodo’

2025-04-20

Autor: João

No último domingo (20), O Globo despertou polêmica ao publicar um editorial alarmante sobre o projeto que visa reduzir a jornada de trabalho semanal de 44 para 40 horas, sem diminuição salarial. A publicação chamou essa proposta de "engodo", sugerindo que sua aprovação traria um colapso econômico ao Brasil.

O jornal, seguindo uma linha de pensamento repleta de previsões apocalípticas, argumentou que a mudança poderia resultar em uma queda drástica no PIB, aumento do desemprego e crescimento da informalidade. Em sua crítica, O Globo destacou estudos de entidades empresariais, como a Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), que tradicionalmente se opõem a conquistas trabalhistas.

Curiosamente, essa não é a primeira vez que O Globo utiliza essa retórica. Em 1962, quando se discutia a criação do 13º salário, o jornal fez acusações semelhantes, argumentando que a nova legislação "quebraria empresas" e prejudicaria os próprios trabalhadores. Ironia das ironias, o 13º salário se tornou uma vitória significativa para os trabalhadores, elevando o consumo e a dignidade da classe trabalhadora.

A insistência do Globo em atacar avanços sociais revela uma visão elitista, que se opõe a qualquer esforço de redistribuição de renda ou melhoria das condições de vida dos trabalhadores. O editorial aborda a necessidade de aumentos imediatos na produtividade, desconsiderando que a jornada atual, exaustiva, é um entrave à criatividade e eficiência dos profissionais.

Além disso, o texto ignora casos de sucesso em países que implementaram jornadas reduzidas gradualmente, promovendo não apenas bem-estar e saúde mental, mas também produtividade. No Brasil, já existem setores que trabalham com jornadas de cinco dias úteis, provando que a redução da carga horária não significa perda de eficiência.

O Globo repete os mesmos medos que ecoavam na elite em 1962, que previra o colapso do país com o 13º salário. Hoje, o medo é análogo em relação à redução da jornada para 40 horas. A defesa dos lucros das grandes empresas, em detrimento do bem-estar e da qualidade de vida dos trabalhadores, perpetua a desigualdade estrutural no Brasil. Para alguns, o trabalhador deve continuar a se sacrificar enquanto os ganhos permanecem nas mãos de poucos.