Em 2025, meu objetivo é não querer emagrecer
2025-01-02
Autor: João
As festividades de final de ano podem ser especialmente desafiadoras para aqueles que lidam com problemas de saúde mental. Por isso, organizações como o Centro de Valorização da Vida ampliam suas equipes para fornecer suporte emocional e prevenção ao suicídio, reconhecendo a dificuldade que muitos enfrentam nesse período.
Enquanto muitos veem o início do novo ano como uma chance de renovação e novas oportunidades, para quem convive com doenças como depressão e ansiedade, pode significar mais um desafio. O temor das mudanças e a sensação de fracasso iminente são sentimentos comuns que muitas pessoas enfrentam, mesmo quando a iluminação festiva das festas termina.
Ademais, lidar com esses sentimentos, somado a um transtorno alimentar, configura um desafio particular. Com a pressão das ceias familiares, é necessário um esforço consciente para evitar a criação de metas irreais para os próximos 365 dias. Minha meta para 2025 é não priorizar a perda de peso como um objetivo.
Embora nunca tenha formalizado esse desejo numa lista, o peso que eu desejava alcançar sempre me atormentou. Este mesmo número é uma sombra que acompanha minha mente desde a adolescência, perdurando por mais de uma década.
A retrospectiva que invade as redes sociais nas últimas semanas do ano não facilita em nada esse processo. A constante comparação com versões passadas de nós mesmos frequentemente resulta em frustração. Sempre que olho para a Joana de janeiro, percebo que a versão atual muitas vezes se sente inferior, o que não é justo.
É uma ilusão achar que o meu corpo adulto deve se parecer com o de quando eu era adolescente. Ainda mais irreal é recordar que, mesmo naquela época, a insatisfação sempre esteve presente. A ideia de que eu precisava ocupar menos espaço se tornava cada vez mais premente. Em um momento, minha mãe fez uma pergunta que me marcou: “Você quer sumir?”. E, não conseguindo explicar, percebi que em algum nível, talvez quisesse mesmo.
O sentimento de vergonha de tomar espaço, do meu corpo em transformação, me levou a me esconder sob roupas largas e a reprimir minha personalidade. A socialização em um ambiente patriarcal muitas vezes intensificou esses sentimentos, alimentando um ciclo de autocrítica e autoconfusão. Eu guardei tudo isso, somatizando emoções até que se tornasse insuportável, levando-me a um colapso emocional, que, paradoxalmente, trouxe libertação ao perceber que não estava sozinha e que minhas vivências tinham nome.
Portanto, em 2025, meu desejo é ocupar o espaço que me foi dado neste mundo. Quero viver sem pedir desculpas e sem me encolher, e, acima de tudo, permitir a mim mesma o direito de incomodar, quando necessário. A ideia de não buscar emagrecer é apenas uma parte dessa jornada, que também implica em validar a minha necessidade de buscar ajuda.
Se você, leitor, se identifica com isso, saiba que você também pode e deve buscar seu espaço, sem se envergonhar disso.