Uma investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) sobre o Hospital Municipal Bela Vista revelou uma alarmante sequência de falhas que levaram à morte de 32 pacientes. Segundo relatos, 17 pacientes faleceram em leitos de terapia intensiva (UTI) em agosto e mais 15 em setembro, incluindo o caso trágico de um homem internado com um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico, que não recebeu o tratamento adequado devido à falta de recursos como a realização de raios-X, um procedimento essencial antes da administração de um cateter.

De acordo com Arthur Pinto Filho, promotor de Justiça dos Direitos Humanos da Área da Saúde Pública, o paciente em questão acabou tendo o cateter posicionado de maneira errada, resultando em complicações fatais. "Ficaram sem a realização do raio-x e, após dois dias de espera, foi constatado que o tubo estava no local errado. O paciente acabou sendo transferido para outro hospital mas, infelizmente, não sobreviveu", explicou o promotor.

INVESTIGAÇÃO CONTINUA E CENÁRIO CATASTRÓFICO

Além da falta de estrutura básica — como uma sala de cirurgia — as UTIs do hospital também apresentavam deficiências graves em termos de controle de acesso e atualização de procedimentos. Em algumas áreas, como a que tratava pacientes com tuberculose, as condições ideais de segurança e ventilação, que são cruciais para evitar a propagação de doenças, simplesmente não existiam. O promotor enfatizou: "Esses locais deveriam ser isolados com suporte adequado e isso não era feito."

A maioria dos pacientes atendidos eram de comunidades carentes, frequentemente usuários de substâncias e de regiões vulneráveis de São Paulo. Segundo o promotor, muitos deles vinham da Cracolândia, um notório ponto de concentração de dependentes químicos. "É frustrante ver que hospitais, em pleno século XXI, ainda operam com tamanha negligência e descaso. Uma verdadeira tragédia humana!", disse Arthur Pinto.

Prefeitura em Resposta ao Alarde Público

A Prefeitura de São Paulo, em nota, justificou o fechamento do hospital como uma medida necessária devido a problemas estruturais, não comentando diretamente o número elevado de óbitos ou as condições críticas em que os pacientes eram tratados. A Vigilância Sanitária interveio no dia 31 de outubro, após a solicitação do MP para uma inspeção que confirmou a interdição da instituição.

O hospital, que operava em parceria com a Organização Social de Saúde Afne, teve que interromper as internações e realocar os pacientes para outras unidades, algo que deverá ser concluído em breve.

Um Histórico de Irregularidades

Surpreendentemente, este não é o primeiro escândalo envolvendo o Hospital Bela Vista. Em 2022, o MP já tinha investigado o hospital por internações involuntárias psiquiátricas sem a devida autorização legal. O promotor afirmou que a internação involuntária deve ser uma exceção e que deveria haver um acompanhamento constante das condições legais.

Com investimentos que totalizam mais de R$ 15 milhões para a estrutura física e adequações necessárias, a desilusão com o hospital é ainda maior considerando as expectativas criadas durante sua inauguração, quando se prometeu um serviço de saúde de qualidade, especialmente focado em atender a população em situação de rua, principalmente após a pandemia de COVID-19.

Ainda há esperança?

A comunidade aguarda ansiosamente os resultados das investigações em curso, pois a esperança de um sistema de saúde digno e eficiente, principalmente para os mais vulneráveis, ainda persiste. O MP promete não deixar o caso em segundo plano e pedirá esclarecimentos à Administração Municipal sobre a condução e as responsabilidades por essas tragédias. A população se pergunta: até onde vai a impunidade e quais serão as consequências desse escândalo? A luta por justiça continua!