Ciência

Escândalos de Abusos em Institutos de Pesquisa da Alemanha: A Difícil Realidade de Cientistas Estrangeiros

2025-03-13

Autor: Lucas

Gabriel Lando, um físico computacional brasileiro que fez pós-doutorado no Instituto Max Planck de Física de Sistemas Complexos em Dresden, compartilhou uma experiência angustiante que revela o lado sombrio da pesquisa científica na Alemanha. "Era quase ritualístico, raramente havia uma reunião com o diretor que não fosse desestabilizadora. Ele batia na mesa, gritava comigo a ponto de eu poder vê-lo cuspir", descreve Lando, referindo-se ao Dr. Jan-Michael Rost, o diretor do instituto.

Lando não está sozinho. Uma investigação realizada pela DW, em colaboração com a revista Der Spiegel, revelou uma preocupante rede de abusos e um ambiente tóxico em vários institutos da Sociedade Max Planck. Mais de 30 cientistas de diversas origens relataram experiências de assédio, intimidação e discriminação, sugerindo que a cultura abusiva é mais comum do que se imagina.

As descobertas indicam que mais da metade dos entrevistados vivenciou ou testemunhou comportamentos inadequados por parte de superiores, com casos de assédio moral especialmente intensos contra cientistas não alemães. Esses pesquisadores, atraídos pela promessa de uma carreira brilhante em uma das instituições científicas mais prestigiadas do mundo, descobriram que a realidade frequentemente envolve humilhações e desrespeito.

As mulheres relataram experiências particularmente negativas, enfrentando um ambiente onde o sexismo se tornou a norma, levando inúmeras a temer por suas carreiras. Cientistas como Aubrey, que preferiu não revelar seu nome real, disseram que a atmosfera sexista impediu sua participação em discussões importantes sobre seus próprios projetos: "Eu sentia que meu trabalho não era valorizado e já havia visto isso acontecer com outras mulheres."

A DW e a Der Spiegel também encontraram evidências de que muitos denunciantes enfrentaram uma barreira significativa ao tentar relatar o abuso. Os procedimentos de denúncia, em muitos casos, revelaram-se ineficazes, com denúncias sendo ignoradas ou rejeitadas sob a justificativa de anonimato, que muitas vezes não era garantido. Isso deixou muitos estudantes e jovens pesquisadores em uma posição vulnerável, hesitantes em se manifestar por medo de represálias.

Um relatório recente do Tribunal Federal de Contas da Alemanha em 2024 criticou a Sociedade Max Planck por falta de supervisão adequada, afirmando que a administração não monitora seus próprios atos e carece de um órgão de supervisão independente. Essa crítica se levanta em um momento em que a confiança na comunidade científica alemã está sendo abalada, com a saída de talentos e uma crescente preocupação sobre a integridade da pesquisa em instituições renomadas.

Enquanto isso, Gabriel Lando decidiu deixar a Alemanha em 2021, recusando uma extensão de contrato após considerar a toxicidade do ambiente. Atualmente, ele prossegue sua pesquisa em um dos principais institutos científicos da Coreia do Sul, refletindo sobre sua experiência: "Hoje, com mais experiência, percebo que um ambiente de competição pode ser produtivo, mas não quando a luta é contra a pessoa e não a ciência."

Nesse cenário alarmante, muitos se perguntam: quais serão as consequências a longo prazo para a pesquisa científica na Alemanha se essa cultura de abuso persistir? É necessário que as instituições tomem medidas concretas para garantir a segurança e o respeito entre todos os seus membros, se desejam permanecer na vanguarda da ciência global.