
Eu Não Vou de Avião: A Revolução Verde que Custa Empregos na Europa!
2025-03-22
Autor: Fernanda
Na busca por um futuro mais sustentável, muitos europeus estão decidindo abrir mão dos voos comerciais em razão das emissões de carbono. Um exemplo emblemático é o pesquisador italiano Gianluca Grimalda, de 53 anos, que, após entender o impacto ambiental da aviação, tomou a drástica decisão de parar de voar. Isso custou-lhe o emprego em 2023, quando ele enfrentou uma odisséia de 72 dias para sair de uma ilha remota em Papua-Nova Guiné e voltar à Alemanha, tudo isso sem usar um único avião.
Esse caso inédito gerou grande repercussão, notabilizando-se como o primeiro relato de um desligamento relacionado a uma escolha ambiental que não foi bem aceita por empregadores. Após um intenso embate jurídico com a instituição que o empregava, Grimalda conseguiu uma compensação financeira por sua demissão.
O dilema apresentado pelo cientista reabre um debate crucial sobre a consciência ambiental na Europa. Desde que a ativista sueca Greta Thunberg popularizou a ideia de evitar viagens aéreas, ações similares têm se espalhado entre jovens europeus, especialmente com o conceito de "flygskam", que traduzido significa "vergonha de voar".
Uma pesquisa do Banco de Investimento Europeu revelou que em 2020, 36% dos europeus já estavam voando menos por conta de preocupações climáticas. Essas mudanças de comportamento são exacerbadas por dados que mostram que cerca de 2,5% das emissões de CO2 do setor energético em 2023 são originadas da aviação, um número que pode parecer pequeno, mas que representa uma pegada de carbono significativa por passageiro.
Gianluca Grimalda compartilhou sua trajetória, ressaltando que começou a evitar voos há 15 anos, inspirado por um grupo de cientistas que, em 1997, cruzou o oceano de trem e barco para a COP3, onde foi assinado o Protocolo de Kyoto. "Depois de conhecer a verdadeira dimensão das emissões, pensei: por que não posso fazer o mesmo?", relatou.
O trajeto não foi nada fácil, e sua missão ambiental o levou a fazer 'caronas' em navios de carga, enfrentando longas esperas que chegaram a 15 dias. Ao perceber que seu tempo estava se esgotando, seu empregador deu um ultimato: ele teria cinco dias para retornar a tempo, ou estaria demitido. Grimalda decidiu permanecer firme em suas convicções e atravessou diversos meios de transporte, totalizando 18 ônibus, 18 trens, 7 barcas, 1 navio mercante, 8 vans, 2 comboios policiais e caronas de caminhão.
Felizmente, ele já possui uma nova oportunidade de trabalho onde seu estilo de vida mais lento e consciente do meio ambiente é aceito. Há quem diga que seu caso tenha inspirado uma onda de outros pesquisadores, com cerca de 20 deles buscando alternativas para evitar ou reduzir suas viagens aéreas.
Na mesma linha, a estudante francesa Marine Martin, 24 anos, vivendo em Portugal, parou de voar para visitar sua família na França, optando por longas jornadas de ônibus que podem durar mais de 24 horas. "Sinto que estou fazendo a minha parte, mesmo que essas viagens sejam desgastantes. Quero reduzir meu impacto e planejo melhor minhas futuras viagens", declarou.
Felipe Barcellos, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente, ressalta que a iniciativa individual de reduzir as emissões de carbono é ótima, mas que é fundamental que isso não recaia apenas sobre a escolha de algumas pessoas. "Mudanças devem ser apoiadas por políticas públicas que incentivem o uso de combustíveis mais limpos e o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis para a aviação", afirma.
As emissões estão concentradas em uma parcela mínima da população, com cerca de 1% dos viajantes responsáveis por 50% das emissões de aviação global. Para combater esse fenômeno, os chamados "jatinhos" se tornaram alvos frequentes de protestos, sendo que inovações no setor e o uso de combustíveis sustentáveis, como o SAF (Sustainable Aviation Fuel), são vistas como soluções promissoras para a descarbonização.
Embora muitos países venham se esforçando para oferecer opções mais ecológicas – como melhorar as linhas ferroviárias e tornar os preços das passagens mais acessíveis – a realidade é que, na maioria das vezes, voar continua sendo uma opção mais barata.