Em uma declaração surpreendente, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, confirmou que Washington estabeleceu um "contato direto" com o Hayat Tahrir al Sham (HTS), uma das principais facções rebeldes sírias. Apesar de os Estados Unidos classificarem o HTS como uma organização "terrorista", Blinken revelou esses detalhes em uma coletiva de imprensa após uma reunião em Aqaba, Jordânia, sobre a situação na Síria.

Durante a coletiva, Blinken afirmou: "Estivemos em contato com o HTS e outras facções". Ele não divulga detalhes específicos sobre as conversas, mas assegurou que este contato foi parte dos esforços para localizar Austin Tice, um jornalista americano sequestrado na Síria em 2012.

A revelação ocorre em um momento de incerteza política, após a queda do presidente sírio Bashar al-Assad, deposto em 8 de novembro por uma aliança de rebeldes liderada pelo HTS. O regime de Assad havia governado a Síria por mais de 50 anos, sua queda marca um ápice importante em um longo e complexo conflito civil.

Blinken também enfatizou que o futuro da Síria deve ser decidido pelos próprios sírios, reivindicando a necessidade de um governo inclusivo e representativo, onde os direitos de todas as minorias, incluindo mulheres, sejam respeitados. "A ajuda humanitária precisa chegar a quem dela necessita", completou.

O encontro em Aqaba incluiu também diplomatas de países árabes e europeus, além de representantes da Turquia, que é um dos principais apoiadores dos grupos rebeldes na região. Em um comunicado conjunto, os participantes concordaram sobre a importância de combater o terrorismo e prevenir o ressurgimento de grupos extremistas.

O HTS, liderado por Abu Mohammed al-Jawlani, é uma facção que tem suas raízes na Al-Qaeda, porém, o grupo alega ter se distanciado do jihadismo e adotado uma postura mais moderada, sem focar em ataques contra interesses ocidentais. Essa mudança de estratégia pode ser um fator que impulsiona o recente contato dos EUA com a facção.

Analistas políticos especulam que uma possível reconsideração da classificação do HTS como organização terrorista por parte dos Estados Unidos pode ocorrer rapidamente, especialmente com a iminente mudança na administração americana, caso o ex-presidente Donald Trump retorne ao poder em janeiro.

Com o futuro da Síria em jogo e os destinos de milhões de sírios nas mãos desta nova configuração política, muitos cidadãos enfrentam suas esperanças e ansiedades em busca por um "novo país", enquanto tentam se libertar do legado de repressão do regime de Assad.