
Famílias em Luta: O Desgaste de Cuidar de Entes com Transtornos
2025-04-10
Autor: Matheus
Cuidado e Sacrifício: A Realidade das Famílias
Luiza, uma mãe dedicadíssima, se desdobra para cuidar de Cláudio, seu filho de 25 anos, que enfrenta os desafios da esquizofrenia e Transtorno do Espectro Autista (TEA). Desde pequeno, Cláudio interage de um jeito único, muitas vezes afirmando ter apenas dois anos, e suas crises, que se tornaram mais frequentes na vida adulta, exigem medidas extremas, como internações.
"Geralmente, ajuízo ao Samu só quando suas crises se tornam autolesivas", revela Luiza, enfatizando a luta incessante para garantir que seu filho receba os cuidados adequados. Com medicamentos prescritos por um psiquiatra, os desafios se acumulam devido à agressividade das crises e ao medo que Cláudio sente ao sair de casa.
Cuidado Total: Duas Vidas em Jogo
Além de Cláudio, Luiza também é responsável pelo marido, um sobrevivente de Acidente Vascular Cerebral (AVC), acrescentando mais carga à sua rotina já pesada. A renda da família, limitada, vem da aposentadoria do esposo, o que torna essa jornada ainda mais desafiadora. "Não sobra tempo para mim. Se pudesse, contrataria uma psicóloga para nos ajudar", desabafa.
Desabafos e Redes de Apoio
Luiza encontrou nas redes sociais uma válvula de escape, onde compartilha tanto os momentos difíceis quanto os instantes de alegria ao lado de Cláudio. "Esses vídeos acalmam ele e mostram a realidade que enfrentamos", explica. Seu maior medo? "Peço a Deus que não me leve antes dele".
O Desafio da Cabeleireira Tatielli
A cabeleireira Tatielli Falcão, de 42 anos, similarmente assumiu o papel de cuidadora total de seus irmãos Anderson (48) e Alexandro (46), diagnosticados com TEA e deficiências intelectuais severas. Ela se mudou com seu filho de sete anos para uma casa maior em Salvador após a morte de sua mãe. Tatielli se vê dividida entre o trabalho e a responsabilidade de cuidar dos irmãos, afirmando que eles são como bebês que precisam de ajuda para tudo.
"Não consigo levar os meus irmãos para tratamento e só pudemos dar os tranquilizantes que a psiquiatra recomendou", lamenta.
O Peso da Responsabilidade
Entre as obrigações diárias, Tatielli acorda antes do nascer do sol para cuidar dos irmãos e prepara seu filho para a escola, assumindo a jornada sozinha ao voltar do trabalho. Ela se depara com o estresse e limitações financeiras, lutando para manter a casa funcionando em meio a despesas acumuladas.
A equipe de cuidadores é escassa e cara, e Tatielli se vê frequentemente sobrecarregada. "Eu não posso correr o risco de falecer e deixar essa carga para meu filho. Tudo o que quero é cuidar de mim no fim da vida, mas isso parece impossível", desabafa aflita.
Como Ajudar os Cuidadores?
O psiquiatra Laerte Romualdo, que trabalha com pessoas com necessidades especiais, destaca que os cuidadores, muitas vezes mulheres, enfrentam riscos elevados de depressão e ansiedade. 'É um problema de saúde pública e demanda políticas específicas para suporte', ressalta.
Um Olhar para o Futuro
A recente sanção da Lei 15.069, que estabelece a Política Nacional de Cuidados, representa uma luz no fim do túnel. Essa nova legislação busca garantir o direito ao cuidado e colaboração entre Estado, famílias, setor privado e sociedade civil. O apoio é vital, e garante não apenas um céu mais claro para quem cuida, mas também um futuro mais esperançoso para aqueles que recebem cuidados.
Essas histórias emocionantes são um lembrete poderoso de que, por trás de cada luta, existem seres humanos extraordinários enfrentando desafios inimagináveis.