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Flip 2023: Luiz Simas Revela que 'Brasil é um Projeto de Exclusão'

2024-10-10

Autor: João

As vibrantes ruas do centro histórico de Paraty (RJ) estão em festa com a 22ª Feira Literária de Paraty (Flip), que começou na noite desta quarta-feira (9). A abertura do evento foi marcada por uma enriquecedora "breve aula" dedicada ao escritor João do Rio, honrado como o grande homenageado desta edição. Sob a orientação do professor e escritor Luiz Antonio Simas, o evento trouxe reflexões profundas sobre a obra do autor.

João do Rio, o pseudônimo de Paulo Barreto, foi um marco do jornalismo e da crônica no Brasil, especialmente no início do século 20. Nascido em 1881, seus textos capturaram a essência da vida urbana, refletindo a identidade carioca e brasileira em suas múltiplas facetas. Enquanto muitos autores da época celebravam um suposto progresso europeu, João do Rio adotou uma postura crítica em relação à elite que buscava imitar essas tradições sem reconhecer suas próprias raízes culturais.

Durante seu discurso impactante na Flip, Luiz Antonio Simas destacou que a narrativa de João do Rio evidenciava um "projeto de exclusão" no Brasil, que perpetuou desigualdades sociais e econômicas. "Fomos projetados para excluir. O Brasil real foi moldado como um Estado colonial destinado a proteger interesses de uma elite branca, ao mesmo tempo em que deslegitimava e atacava as identidades e corpos não brancos", afirmou Simas.

Simas também lembrou que, apesar de João do Rio ter reproduzido certos preconceitos em sua obra, ele abordou questões sociais ainda contemporâneas, como a luta por direitos das mulheres e o reconhecimento das religiões afro-brasileiras. "Estamos vivenciando dilemas de um país que ainda luta com questões de intolerância e racismo religioso, onde o que se chama de tolerância deveria ser reclamado como liberdade plena para expressar nossas espiritualidades", completou.

João do Rio, considerado um pioneiro do jornalismo literário no Brasil, misturava ficção, reportagem e análise cultural com maestria. "Ele não só documentou a transformação de uma cidade, mas construiu uma verdadeira etnografia do Rio de Janeiro em seu tempo", explica Ana Lima Cecílio, curadora da Flip.

Seu trabalho também reflete um profundo temor e fascínio pela modernidade que emergia no Rio. A busca por compreender a cidade em transformação o levou a investigar as mudanças sociais e culturais com um olhar aguçado, percebendo que uma nova cidade surgiria enquanto a velha desaparecia.

A homenagem a João do Rio na Flip é uma oportunidade de resgatar e preservar sua memória, que tem sido esquecida ao longo do tempo, especialmente considerando que o centenário de sua morte, em 2021, passou quase despercebido.

A 22ª Flip acontece de 9 a 13 de outubro, trazendo uma série de debates, apresentações e homenagens. Ana Lima Cecílio também anunciou a exibição de imagens raras do funeral de João do Rio, resultado da pesquisa de João Venâncio. "É uma experiência emocionante. Essas imagens revelam a cidade de luto pela perda de um grande escritor", concluiu a curadora.