Tecnologia

'Fomos uns idiotas', diz precursor da internet sobre o poder da desinformação

2024-10-04

Marcelo Ninio: 'Vale do Silício chinês' aposta em inovação sustentável

Recentemente, a cidade chinesa de Wuxi recebeu uma conferência sobre tecnologia e inovação, onde o renomado especialista Scaruffi compartilhou suas preocupações sobre o impacto da inteligência artificial (IA) e da desinformação na sociedade moderna. Ele não mede palavras em suas críticas, afirmando: 'Fomos uns idiotas. Não entendemos que há muito mais pessoas interessadas em espalhar desinformação do que em informar.'

Quando questionado sobre o estado atual do desenvolvimento da IA, Scaruffi aponta a ilógica dos custos de energia. Ele destaca que enquanto o cérebro humano consome entre 20 a 40 watts para realizar diversas funções, sistemas como o GPT consomem centenas de milhares de watts para simplesmente ler e escrever. Isso representa um problema não só econômico, mas também social, reforçando a desigualdade no acesso à tecnologia.

A sua crítica se estende ao modo como a IA está sendo utilizada, sugerindo que estamos construindo sistemas extremamente complexos que, na prática, são desnecessários. Ele compara a criação atual com uma ponte monumental feita apenas para ser usada por cabras, questionando a real eficácia dessas inovações.

Em relação à inserção da IA nas economias ocidentais, Scaruffi afirma que a dependência de grandes corporações para desenvolver e implementar essas tecnologias pode ser um entrave para muitos países. Ele expressa certa incerteza sobre o futuro dos investimentos em IA na China, apesar do seu foco no progresso tecnológico e na transição verde, uma contradição que segundo ele, mostra a falta de entendimento sobre as reais implicações do uso maciço de energia.

A desinformação, segundo Scaruffi, é uma das grandes frustrações da internet. Na época de sua fundação, havia esperança de que a web pudesse ser um meio de democratizar a informação, mas ao invés disso, ele observa que estamos voltando a um estado similar à Idade Média, onde as pessoas consomem informações superficiais e não conseguem diferenciar entre o que é fato e o que é lenda. Um exemplo claro que ele menciona é a propagação de boatos, como a fictícia história de que imigrantes em Ohio estariam alimentando-se de gatos e cachorros, uma afirmação absurda que ilustra a decadência na qualidade das informações disponíveis.

No entanto, ao ser indagado se a mesma tecnologia que trouxe esses problemas poderia também ser uma solução, Scaruffi se mostra cético. Ele acredita que a tecnologia, em vez de servir aos humanos, parece ter uma dinâmica própria, movendo-se em direção a interesses que muitas vezes não alinham-se aos melhores interesses da sociedade. Para ele, o maior desafio é encontrar maneiras de filtrar a desinformação e recuperar a qualidade das informações que consumimos, um caminho longo e cheio de obstáculos.

Por último, Scaruffi discorre sobre a posição da China no cenário tecnológico. O país, que investe pesadamente em tecnologia, também exerce um controle rigoroso sobre ela, diferente do modelo ocidental que se baseia em liberdade de mercado. Ele ressalta que, enquanto as abordagens ocidentais podem resultar em mais inovações, as restrições chinesas podem favorecer um controle mais eficaz da tecnologia. Isso gera um dilema sobre o que seria melhor para a evolução da sociedade: a liberdade do mercado ou o controle estatal.

Marcelo Ninio conclui que a desinformação é uma faceta do comportamento humano, algo que sempre se fez presente e será desafiador combatê-la em um mundo saturado de informação. Ele nos lembra de que, apesar das promessas da tecnologia, a responsabilidade de filtrá-la está nas nossas mãos.